sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tiros, comédias e pensamentos femininos.

O avião da companhia TAM pousa às 18:07h de quinta-feira, dia 25 de novembro de 2010, exato um mês antes do Natal e um dia após o aniversário do meu saudoso pai.
No meu tocador de mp3 ouço a seqüência de Ave Maria da Rua e Canto para Minha Morte de Raul Seixas enquanto leio a ultima frase do livro de Nelson Motta sobre a vida, obra e causos de Tim Maia, dizendo que “No domingo, 15 de março de 1998, às 13:03h, o coração do gordinho mais simpático da Tijuca parou de bater.”

Não sei, de verdade, o que esperar ao desembarcar no aeroporto Santos Dumont. Não tenho idéia, depois de quatro dias na capital paulista, do que me espera na cidade onde nasci e cresci, e que nos últimos dias, acompanhei pelos noticiários, contato com amigos e notícias paralelas do “feeeeeice”, o caos instaurado com a ação do crime (dês)organizado, sem precedentes na história da vida civil carioca.

De concreto, neste momento (ontem à tarde), uma espera de 20 minutos por um taxi que se propusesse a me levar até minha casa, no Catete, zona sul do Rio, a 10 minutos do aeroporto. Três taxistas se recusaram em fazer a corrida, por conta de uma blitz na Pedro Américo, minha rua.

 

Além disso, o cancelamento de uma reunião de trabalho, por receio da equipe em perambular pelas ruas do Rio após o anoitecer. Tal e qual num “filme b” de terror, com zumbis e monstros sanguinários e incendiários a procura de sangue fresco e chamas de destruição.

 

Fico imaginando Rodrigo Miranda e Sebastião Maia, respectivamente meu pai e Tim Maia, cariocas da gema de épocas em que o Rio era um Rio tão diferente, vendo (espero que de cima) tudo isso. Cariocas de épocas em que o Rio era tão lúdico e lindo. Tão Rio! O Rio de longe, que vemos ao chegar à cidade pelos céus, quando inevitavelmente nos vem à cabeça o “Samba do Avião” de Tom.


Como chegamos nesse ponto? De quem é a culpa? O que fazer a partir de agora?

Seja como for (ou seja, claro que não tenho as respostas acima), “teorias” esdrúxulas e “protestos” grosseiros e sem nenhum embasamento pipocam na nossa mesinha de bar virtual (o feeeeeice) e começam e me preocupar tanto quanto a própria ação da bandidagem.
Sim! Me preocupam! Porque desde os embates políticos da última eleição presidencial, tenho olhado ressabiado, com certa desconfiança essa tal liberdade adquirida através das mídias sociais virtuais que colocam lado a lado e em total condição de igualdade (pelo menos em termos de divulgação de suas idéias), um professor de sociologia e um idiota qualquer que acha que sabe do que está falando (como eu).

Comentários reacionários, taxativos, e passionais onde questões profundas da sociedade são vomitados de forma simplória e minimalista, e abarrotam nossos murais na internet gerando polêmicas (muitas desnecessárias), brigas, discussões, raiva, ódio. Apenas por serem idéias divergentes. Tudo que não precisamos num momento desses. Um racha absurdo que em nada ajuda a sociedade e em nada resolve a situação.

Da manjada revolta colocando a culpa nos maconheiros, passando por “isso é coisa da Rede Globo” (ainda bem que não colocaram a Nike no meio. Já basta a Copa de 98) para minimizar uma situação grave e real, até o racha entre zona norte e zona sul, como se não fizéssemos, todos, parte da mesma cidade, apoio a chacina de bandidos e controle arbitrário de natalidade. Tudo vomitado. Tudo dito sem pensar. Seja pelo (completamente compreensível) estado de nervos em que a população se encontra (eu mesmo, ontem a noite, após um tiroteio de quase uma hora na porta da minha casa me utilizei da mais venenosa ironia pra “protestar” no meu mural do Facebook de forma completamente atabalhoada), seja por ignorância. E não é a ignorância da impossibilidade de acesso a informação. Mas a ignorância de optar por não ter acesso a essa informação, hoje um mal que assola grade parte dos jovens de classe média. Seja como for, não é hora disso.

A hora é de assumir a própria culpa. Os próprios erros. Olhar pro próprio rabo e não pro próprio umbigo. Pensar o que cada um de nós está fazendo de errado e como mudar isso.
Seja quem fuma um baseado ou consome uma carreira. Seja quem suborna um policial por que está sem documentos ou está dirigindo bêbado. Seja quem sonega um imposto. Quem votou de forma inconsciente e inconseqüente na ultima eleição. Seja quem não está dando a devida atenção na educação de seus pequenos filhos que futuramente serão os cidadãos que decidirão o seu e o nosso futuro. E fica a questão: será que toda vez que eu olhei com indiferença, desprezo, nojo, sem igualdade de condições, para alguém menos favorecido financeiramente, para alguém com dificuldades e realidade diferente da minha, de certa forma eu também não estava ajudando a alimentar o tráfico de drogas??? Ajudando a formar um sentimento de “querer se afirmar”, de “querer o que é do outro”, de revolta e revanche (legitimas) por parte desses jovens? Por que só quem pode ter sentimentos e quereres é a classe média? A classe média tem analista, remédio, dinheiro pra “ter”. E o sujeito pobre e fodido que tem também o direito de “querer”? Não tem o direito de roubar, mas tem o dever de enfiar esse “querer” no cu e nos entubar olhando pra ele com indiferença, desconfiança e superioridade. No máximo, com pena. Ah! Faça me o favor!

Não minimizemos essas questões. Todas são enormes e importantes.

Apenas citando um exemplo de como o buraco é bem mais embaixo, ontem entre diversas cenas chocantes na TV, me chamou a atenção uma cena já antiga e bem batida, mas que ontem percebi de outra forma: os dois momentos de Elias Maluco. O primeiro quando é preso pela polícia, no morro. Acuado, assustado, espancado, atordoado. E o segundo, quando o traficante aparece entrando num tribunal, tempos depois, pra ser julgado. Frio, tranqüilo, com um ar de quase deboche, dando a total certeza ao cidadão que acompanha aquilo que ele, mesmo preso, está por cima da carne seca. Continua dando as cartas e que aquilo é um grande teatrinho. Isso não é uma cena de complexidade máxima?  Uma cena que deflagra a total fragilidade do nosso sistema de leis, de comando. De como estão completamente confusos e trocados os papéis de coordenação da sociedade?

O medo está dominando e aparentemente vencendo. Mas não podemos deixar que o pânico e o caos se instaurem nas nossas vidas. A hora é de acreditar e confiar nos órgãos públicos (que por total falta de opção, estão sendo obrigados a agir e reagir a tudo isso, ao contrário do que foi feito ao longo de décadas) e manter a calma, a cabeça fria. Agir com estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie... como diria Nascimento, nosso primeiro super herói nacional no novo milênio. Arregaçar as mangas e mudar. Lutar por leis coerentes e que não privilegiem essa máfia que ganha milhões à custa da desgraça alheia. Lutar por políticos confiáveis e bem intencionados, por educação para os menos favorecidos e reeducação para os ignorantes da classe média. Esses bandidos, antes de serem traficantes, são criminosos. Eles não estão ali apenas pelo tráfico de drogas. Como fica claro no filme (e livro) Cidade de Deus, o tráfico foi apenas um meio mais fácil e menos ariscado (comparado com outras formas de delitos) que encontraram pra ganhar dinheiro. E antes de serem criminosos, são pessoas que poderiam sim estar desenvolvendo outras atividades se alguma oportunidade lhes fosse oferecida.

Não adianta saber de quem é a culpa se você não está apto a, sequer, reconhecer a sua parte.

É hora de deixarmos um pouco de sermos os donos da verdade. Todo mundo tá querendo ser o dono da verdade nos seus feeeices. Tá na hora de aceitar a verdade e alterá-la. Urgente.

Cariocas do meu Brasil. Uni-vos.

José Padilha falou. José Padilha avisou.

= ) Se de algo serviu essa noite reclusa e preso em minha própria casa, foi para acompanhar a nova a programação de quinta-feira da Rede Globo. Em específico, duas novas mini-séries: “Clandestinos” e “Afinal, o que querem as mulheres?”.

Nota do editor: é uma pena a Rede Globo estar apostando em bons programas numa parte de sua nova programação, voltados para um publico pensante e qualitativamente melhor, e esse público quando perguntado se assistiu a algum desses programas responde “eu não vejo televisão”. Alguma coisa errada está acontecendo com a comunicação e divulgação desses programas pela Vênus Platinada. Meus amigos, dos quais tenho certeza absoluta de que gostariam de “Afinal...”, “Tudo junto e misturado”, “A Cura” entre alguns outros, sequer sabem que esses programas existem. Alô Rede Globo! Abre o olho!!!

Da primeira, havia assistido apenas a alguns trechos nas semanas anteriores. A segunda, vejo religiosamente toda segunda-feira no Youtube.

A primeira, infelizmente ficou no meio do caminho. Mesmo com as grife João Falcão, que admiro e considero, e Guel Arraes nos créditos, o programa não emplaca. Ele deixa apenas uma leve impressão de que a peça que deu origem ao programa pode ser interessante.
O ritmo de narração se propõe a ser dinâmico, mas não consegue. Algumas atuações são interessantes. Outras, como a de um dos fios condutores da história, o diretor teatral Fábio (interpretado por Fábio Enriquez Bastos) é rasa e estereotipada. Ruim mesmo.
Clandestinos soa como uma espécie de “Malhação do Teatro”. É como se a novelinha vespertina fosse ambientada nas salas da CAL, ao invés dos fictícios colégios onde se passaram as (horrendas) tramas da série.

Mas tudo isso poderia ser contornado, não fosse o maior, na minha opinião, problema de Clandestinos: a série é piegas. E pra isso, não há cura. Piegas é quando algo tentar ser emocionante, sentimental, e erra na mão, tornando-se “vergonha alheia”, pra trocar em miúdos. Quando sobe o BG instrumental cheio de cordas e os olhares ficam mareados na tela, e você ao invés de chorar junto pensa “puta que o pariu! Que merda isso, heim... batiiiiiiiido...” ou algo do tipo.

E isso acontece constantemente em Clandestinos. Talvez por ser “teatral” demais para a TV. Talvez. Os atores se posicionam, falam, articulam e impostam suas vozes e suas expressões de forma teatral demais para um programa de TV. Ao longo dessa vida de bicão televisivo e teatral, eu descobri que sim (muito devo ao meu último relacionamento de anos com uma excelente atriz), existe uma diferença abissal entre a forma de atuar no teatro e na TV, não sendo necessariamente, nenhuma melhor ou mais nobre que a outra. Existem boas e ruins atuações em ambos os âmbitos. Apenas isso.

O fato é (Zé me desculpe... eu tentei gostar): Clandestinos não monta na lambreta. Mas valeu a tentativa.

Já “Afinal, o que querem as mulheres?” é gol de placa do Conquinha na final do campeonato. Uma pintura! Rápido, ágil e dinâmico. Roteiro amarrado e interessante. Surrealista. Estética ousada, quente. Parece que estamos numa festa entre o Studio 54 e algum lugar em Barcelona (mesmo nunca tendo ido a nenhum deles). 
Ousado. Ousado e sedutor. 
Atuações excelentes, excitantes. Um programa totalmente fora dos padrões, com uma identidade, um carisma e uma competência técnica que o fazem já figurar entre os melhores da história da TV brasileira. Esse menino Michel Melamed não é fácil não. Não vou falar muito mais, se não vai parecer que fui eu o criador da comunidade “Eu daria pro Michel Melamed”. Se bem que...

Curti. E recomendo.

Sorte pra todos nós. Vai melhorar. Tudo, tudo, tudo vai dar pé.

Bjs



Ouvindo: tiros.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Muita, mas muuuuita calma mesmo nessa hora OU um bom roteiro vale mais que 10.356 palavras

Nesta semana fiz algo que não fazia há anos: fui ao cinema, duas vezes em menos de 7 dias, assistir a dois filmes diferentes.  Coincidentemente assisti a duas comédias. Uma “gringa” e uma nacional: “Um Parto de Viagem” e “Muita Calma Nessa Hora”.

No primeiro (apesar da triste tradução do título do filme pra português, como eventualmente acontece, quase estragar a vontade de assisti-lo) constatei que Todd Phillips (diretor do também genial “Se Beber Não Case”) é o atual rei da comédia, digo, cocada, preta. E no segundo (apesar de inicialmente achar o título também uma bosta, mas depois entender que nada mais apropriado que este titulo para este filme), tive a grande decepção com uma das mais aguardadas estréias do cinema nacional (ao menos pra mim) no ano, além da constatação de que faltam, no Brasil, bons roteiristas de comédia para cinema.
“Um Parto de Viagem” é esporrante! Tão surreal quanto “Se Beber Não Case”, só que mais pastelão. E pastelão dos bons, de frango com catupiry da Paradinha de Rio das Ostras há uns 15 anos. E as comparações podem parar por ai. Por que o único problema de “Um Parto...” é que invariavelmente você vai querer comparar ao sucesso anterior do mesmo diretor. Não faça isso. O que seria de “Um Drink No Inferno” ou “Kill Bill” se ficássemos o tempo todo comparando com Pulp Fiction??? Ferrou, né???

Claro que alguns traços, como o “politicamente incorretíssimo” e o machismo exacerbado (sem que isso seja um problema, por que ele tira sarro de tudo, inclusive disso), são convergentes entre os dois títulos. E pra ser honesto, separando bem as coisas, eu realmente gostei mais e me identifiquei mais com (mais completo também, principalmente pelo roteiro ser mais surpreendente) “Se Beber...”, o que em hipótese alguma é um demérito ou uma diminuição ao excelente resultado final do novo filme de Todd, atualmente em cartaz.

Apesar de todos os possíveis e identificáveis clichês do filme, Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis (ambos impagáveis. Este último também presente no sucesso anterior do diretor) recriam duplas manjadas e clássicas do cinema de comédia onde figuras opostas são obrigadas por algum motivo (neste em especifico, uma viagem de carro para cruzar o país) a se atraírem. Poderia, não fosse a junção de suas brilhantes atuações com um roteiro amarradíssimo, o filme cair no pastelão óbvio (aqueles pastelões de camarão com catupiry do Belmonte, que apesar de deliciosos, não te surpreendem mais de jeito nenhum). Mas ai entra a diferença de toda uma escola de décadas fazendo essa porcaria dar certo (claro, que aqui capitaneada pelo ousado e certeiro diretor).

O novo filme de Todd Phillips é um road movie com situações hilárias que diverte, surpreende e, eventualmente, emociona. Tudo certo!

E assim deveria ser “Muita Calma Nessa Hora”, que também, no começo, nos dá a falsa impressão de que será, como “Um Parto de Viagem”, um (bom) road movie. Mas não é.
Decepção, geralmente está ligada a superestimar algo. Pelo elenco (grande parte dos melhores atores ligados a comédia na atual cena brasileira estão lá) e pelos resultados recentes de Bruno Mazzeo e sua turma a frente dos roteiros de programas de (boa) comédia na TV a cabo (Cilada – Multishow) e aberta (Tudo Junto e Misturado – Globo) e por ser um grande admirador e entusiasta dessa rapaziada toda (eufemismo pra fanzoca de merda), eu realmente esperava um bom filme. Um filme REALMENTE politicamente incorreto e com humor inteligente.

Logo de cara, se você pensa em assistir (acho que mesmo depois desse texto, deve assistir sim) ao filme, não veja o trailer. Nele estão 4 ou 5 das 7 ou 8 boas piadas de “Muita Calma...”, e te trazem ainda mais expectativa que pode se transformar em frustração.

Assim como em “Um Parto de Viagem”, temos também algumas atuações cômicas boas: o pessoal do Hermes e Renato, Adnet (salvando a pátria do meio em diante), Luis Miranda, Débora Lamm e uma ponta sensacional de Serginho “Yeah Yeah” Mallandro.


Tem também a (aaaaaaaai, aaaaaaaaaaaaai, suspiromegamaxsupercasoquandoelaquiser) linda e talentosa Andréa Horta que promete ser a nova queridinha das telinhas e telonas. Boa (e linda) atriz que eu já vinha sacando (e secando, se me permitem o trocadilho) desde a minissérie “A Cura”.

Fora isso, todo mudo meio barro, meio tijolo, fazendo papéis meio óbvios.
A direção de Felipe Joffily, ao contrário de seu trabalho em “Ódique”, é fraca. As piadas bem previsíveis (o recurso da repetição é usado a exaustão e, diga-se de passagem, não dando certo como deveria dar) e o roteiro... bem... eu fiquei me questionando o filme inteiro se esse roteiro era mesmo do Mazzeo.
Porém, contudo, todavia, no meio do caminho caiu a ficha: “Muita Calma Nessa Hora” é um filme de “comédia jovem” (dessa forma mesmo, como está no site oficial da película). Uma comédia pra adolescentes! O elo perdido (e muuuuuuuito perido, diga-se de passagem) do Comédia MTV e da Malhação. Logo, quem estava desavisado e no lugar errado ali, era eu!!!

“Se Beber Não Case” e “Um Parto de Viagem”, são “comédias adultas”. E “Muita Calma Nessa Hora” é uma comédia jovem! Tchaarã! Matamos a charada. Apesar do sexo, das bebidas, da maconha, de tudo isso, a comédia é jovem! Por que realmente, isso tudo faz parte do universo “jovem” atual. Bem diferente daqueles filmes da Xuxa e Paquitas andando de bugre nas praias com pano de fundo as férias de verão, onde no máximo víamos beijinhos e maios um pouco mais cravados, digo, cavados.

Uma pena, pena mesmo que os jovens daqui, de hoje em dia, sejam mais idiotizados que a media mundial. Por que Superbad e Juno, apenas pra citar algumas excelentes “comédias jovens” estrangeiras atuais, são tão acessíveis e “adolescentemente bobas” quanto deveria ser “Muita Calma...”, mas são beeeeeeem mais interessantes e, por que não, inteligentes.
E é justamente no roteiro que essas diferenças abissais ficam mais visíveis. O argumento de Rik Nogueira e Augusto Casé já não é fantástico. Ok. E o roteiro de Bruno Mazzeo, João Avelino e Rosana Ferrão andam de mãos dadas fazendo o filme parecer um texto bobo de amigas do primeiro ano de Comunicação Social da PUC contando como foram suas primeiras férias em Búzios depois de ingressarem na faculdade. A produção e parte técnica também não são boas. Mas ai é uma questão de verba.

O Brasil já avançou (a passos largos) em roteiros de documentários, filmes de ação, policiais (Tropa de Elite 2 e Cidade de Deus tiram onda na praia no verão), dramas... mas em matéria de comédia cinematográfica (vide outras decepções anteriores como os filmes dos Cassetas, por exemplo), salvo as comédias regionais e de época (geralmente baseadas em excelentes clássicos da nossa literatura) ainda deixa muito a desejar. Um recente exemplo é a série “Se eu fosse você”. O primeiro é excelente e o segundo, arrastadíssimo. Apesar do mesmo argumento clichê e dos mesmos excelentes atores em ambos, no primeiro, o roteiro funciona. No segundo, não.

Mas, ainda há esperança! Essa turma é boa. Muito boa mesmo. E está fazendo história na TV brasileira. Espero que as arestas sejam aparadas e que nas próximas (por que, pelo menos em matéria de publico, parece que o filme vai bem) tentativas, tenhamos mais sorte e mais ousadia.

Assim, principalmente como fã, espero.
Ouvindo: o set da Modinha de sábado (20.11) com Cee Lo Green, Miachael Jackson, Lulu e Sandra de Sá, Estelle, Super Grass, Piano Negro, e claro... Paul!!!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Apenas um desabafo de torcedor

Este é um texto não de critico, não de jornalista esportivo, mas um texto de torcedor. Apenas um torcedor.

Segunda-feira cinzenta no Rio de Janeiro.

Uma segunda-feira onde a cidade deveria ter acordado colorida. Coberta de verde, branco e grená.
O panorama cor de chumbo começou a ser delineada já no sábado, na sempre cinzenta cidade de São Paulo, com a marcação, no mínimo duvidosa (pra não dizer completamente absurda) da penalidade máxima sob o Fenômeno, aos 43 minutos do segundo tempo de um jogo equilibradíssimo onde ficou claro que independente dos méritos intra campo, será bem difícil tirar esse título do Corinthians. Choro de perdedor à parte, não falo só em nome da torcida tricolor, mas do pessoal da raposa, e de todos que querem ver um campeonato idôneo e acima de qualquer suspeita: em nenhuma outra situação, a não ser na intrigante passagem ocorrida na ultima rodada no estádio do Pacaembu, aquele encontrão entre dois jogadores na área seria encarado como pênalti. Fosse o ataque do Flamengo, do Prudente, do Internacional, do Fluminense ou até mesmo do Cruzeiro, passaria totalmente em branco. Mas o Corinthians, que trouxe Ronaldo e Roberto Carlos e cedeu o Mano pra CBF, deveria e foi contemplado com um pênalti que, até agora (e provavelmente até o final) lhe dá o titulo de campeão brasileiro de 2010.

Tristeza e vergonha para os amantes do futebol.

Mas, na minha humilde opinião, tão vergonhoso e triste quanto o episódio do 13 de novembro, foi a atuação digna de rebaixamento do scratch tricolor no dia posterior, diante do (provavelmente) rebaixado Goiás.
Pênalti irregular à parte (incluindo também dois pênaltis claros não marcados a favor do Fluminense contra o Goiás, uma mão e um em Conca), manobras escusas à parte, mala branca à parte, qualquer coisa que justifique extra-campo à parte, o Fluminense, até as 17h do dia 14 de novembro de 2010, só dependeria de si para sagra-se campeão, legitimo e justo.

Mas um time que entra em campo como se estivesse fazendo um coletivo, mesmo sob o aplauso de 36.000 torcedores apaixonados, já me deixa com a pulga atrás da orelha se deve realmente ser o primeiro colocado de um dos maiores campeonato do mundo.

Fernando Bob e Valencia não se encontraram até agora (mais de 30 rodadas após o inicio do campeonato) no meio de campo. Por que diabos, num jogo tão decisivo eles iriam se encontrar? Se sintonizar??? Por que diabos não entrar com Diguinho (quem diria???) que provou ter se encontrado (e provou fazer muita falta quando ficou mais de um mês contundido) e ter dado uma outra consistência a defesa do pó-de-arroz? Pra poder agradar ao patrocinador escalando um Deco que até agora não mostrou ao que veio? Confio plenamente no Muricy e em seu trabalho. E prefiro acreditar que ele errou. Que foi um erro. Normal, de ser humano, a imaginar que temos também nos bastidores tricolores, armações tão escusas quanto as que fazem do Corinthians, neste momento, o campeão brasileiro. Vamos por esse caminho: Muricy errou. Errou ao escalar esses dois péssimos carregadores de piano que em alguns momentos (principalmente o Bob) imaginam que podem ser meio campo de criação. Quem diabos convidou??? Quem diabos disse a Fernando Bob que ele tem algum talento pra armar jogada, fazer lançamento ou dar um passe certo? Pra chutar em gol, então...

Deco, muito marcado, nada fez além de prender bola e sofrer falta. Saiu no intervalo pra entrada de... Diguinho!!! Ah... agora com três jogadores de defesa no meio campo, podemos liberar o Conca pra criar... até por que, o perigosíssimo time do Goiás necessita de três jogadores de defesa no meio campo pra ser parado. Faça-me o favor!
Pra piorar, ter Washington como companheiro de ataque de Fred (que apesar de tudo, voltou bem. Sem ritmo, mas dando alguma esperança de qualidade ao ataque) na segunda etapa inteira, tirando Tartá (que não jogava bem, mas pelo menos forma uma dupla menos parada com Fred) e obrigando o time a fazer o (nojeeeeeeeeeeeento, tchan) manjado (e sem nenhum sucesso) “chuveirinho” na área do verdão do cerrado, foi mais um erro do comandante Muricy nesse jogo que mais parecia o “jogo dos sete erros”:

- Fernando Bob + Valencia;
- Deco sem ritmo;
- André Luis (péssimo);
- Diguinho no banco de reservas;
- Diguinho no lugar de Deco;
- Washington no lugar de Tartá;
- Carlinhos (pelo conjunto da obra).

Deixo Carlinhos por ultimo por que esse é um caso à parte.

André Luiz, por exemplo, é ruim. Não ajudou. Jogou mal. Mas pelo menos não atrapalhou. Tanto.
Carlinhos não entrou em campo. Lento, disperso, nem parecia que estava disputando o jogo de sua vida. Um jogador profissional não pode não entrar num jogo desses se não for pra ganhar, pra detonar. Pra fazer história. O gol do Goiás nasceu de um erro grotesco de Carlinhos. Ele esteve mal no apoio e mal na defesa. Péssimos cruzamentos, erros de passe primários, marcação falha. Carlinhos estava irreconhecível. Não sei por que diabos Muricy não o substituiu. Nem que fosse pelo Julio Cesar.

Se este título foi perdido este fim de semana, ele foi perdido pelo Flu, e não ganho pelo Corinthians. Volto a dizer: um time que quer ser campeão, não pode jogar contra o vice-lanterna do campeonato (isso já havia acontecido contra o Atlético –GO) como jogou o tricolor carioca na tarde chuvosa de ontem. O Fluminense não poderia com a tabela que tinha, talvez a mais “fácil” dos três que disputam o titulo diretamente, terminar essa rodada dependendo de qualquer um que não fosse de si próprio.

Como parâmetro e combustível de esperança, temos a historia recente do Hexa do Mengão, e seu empate (quase) catastrófico contra o mesmo Goiás, em casa (na época, o Maraca) há duas rodadas do fim do campeonato de 2009. Tudo conspirou e esse empate que deveria ter valido o titulo do rubro-negro foi só mais um ingrediente de tensão e emoção no fim do campeonato.

Confio em Muricy e, apesar da pífia apresentação de ontem, e nos guerreiros das Laranjeiras.

Confio no Vitória da Bahia de Todos os Santos e na sua necessidade de vencer (ate por que o Bahia já subiu). Confio no Vasco de Dinamite (e não mais de Eurico) e até no Goiás de ontem que, imagino, pode ser, dependendo da combinação, também uma pedra no sapato do Coringão (dessa vez com uma mala branca da Unimed? Será??? Quem com ferro fere? Ladrão que rouba ladrão? Espero que não...). Confio em Nelson Rodrigues e em João de Deus.

E como disse lá em cima, isso é um texto de torcedor. E como torcedor, desdenho solenemente do parecer técnico dos “comentaristas de árbitros” da Rede Globo de Televisão. O choque pode ter havido, como houve. Daí aquilo ser um pênalti, são outros 500.

No fim, a justiça futebolística divina, vai prevalecer. Assim confio.

Voltamos a nos falar em 05 de dezembro.

=) Completamente apaixonado pelo “Som e a Fúria de Tim Maia”, brilhante e emocionantemente escrito por Nelson Motta e tardiamente lido por mim. Ainda estou na década de 70, mas já estou mais apaixonado que nunca pelo genial gorducho da galera do Matoso que ganhou o Brasil depois de passar todo tipo de perrengues e que é um artista como já não se faz mais e provavelmente não se fará nunca mais na história do show business.

Que Tim Maia descanse (merecidamente) em paz onde estiver. Mesmo que seja tocando o zaralho.

Bip. Bip.

Ouvindo: (claro) Tim Maia (década de 70)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caê + Gadú + Vilhena

= ) Depois de um (nem tão) longo e (nem tão) tenebroso inverno, eis me aqui, digníssimos, para dissertar acerca de dois interessantíssimos eventos presenciados por mim na última semana.

O primeiro (e mais chocante, pois realmente não esperava, nem de longe, verr o que vi) foi o musical “Hedwing e o Centímetro Enfurecido”, estrelada por Paulo Vilhena (assim, sem o “inho”), Pierre Baitelli e Eline Porto, dirigido e adaptado por Evandro Mesquita e traduzido por Jonas Calmon Klabin, e contando com uma banda de apoio (inicialmente, minha maior motivação para assistir à peça) que além de ser composta por grandes amigos, é uma das melhores bandas de rock já formada no Rio de Janeiro (Alexandre Griva (bateria), Patrick Laplan (baixo), Fabrizio Iorio (teclado) e Pedro Nogueira (guitarra)), e que encerrou a temporada de estréia no Teatro das Artes na Gávea no último sábado, dia 06, mas que certamente retomará suas atividades em breve em algum outro palco do Rio ou fora dele.

Não sou critico de teatro. Na verdade, não sou critico de porra nenhuma. Mas sou critico. Pracaralho. Com tudo. Inclusive comigo. Por isso, me sinto no direito e no dever de sempre dividir com vocês, mês 17,5 leitores, neste espaço que É MEU, minhas impressões sobre os mais variados e diversos, relevantes ou não, temas. E vos digo: assistam a essa peça! Se você curte rock, glam rock, interessantíssimas canções e interpretações de rock na melhor linguagem de Bowie, Iggy Pop, Lou Reed, etc, assista a esse musical! Se você curte um texto ácido, intenso, desafiador e divertidíssimo ao mesmo tempo, assistam a esse espetáculo! Se você curte atuações impactantes e viscerais, sem cair no estereótipo, na banalização de tipos já bem batidos, mas apresentados aqui com um frescor de excelentes novos atores, assista a esse musical! E se você, assim como eu (principalmente por estar muito puto depois de ter ido parar no teatro errado e ter que pegar, em plena quinta feira, às 20h, um taxi pra chegar em 10 minutos de Copacabana à Gávea) apostava seu rabicó que o Paulinho (ai sim, com “inho”) Vilhena pudesse ser um ator (ok, ele já tinha me deixado com a pulga atrás da orelha quando contracenou com Daniel Dantas em Paraíso Tropical), pelo amor de Deus: VAI LOGO VER ESSA PORRA DESSA PEÇA!!!!!!!!

Não por que Paulo seja o melhor ator em cena. Mas pelo simples fato de que ele é um ator. E bom. Por que na boa, não dá pra dizer que foi cagada, pura sorte, ter pego esse papel nesta peça excelente,  e que a partir de agora ele vai voltar a fazer um monte de bobeirinhas de Malhação. Paulo se tornou um bom ator. Deve ter estudado muito, se preparado muito e deixado de vez o bom ator que talvez sempre tivesse existido, mas que estava adormecido e dopado pelo caminho fácil do “galã-de-malhação-da-globo” dentro dele, vir à tona.
Paulo está tão irreconhecível que eu demorei um bom tempo pra descobrir quem era ele em cena. Voz, trejeitos, caracterização, sotaque, figurino, e principalmente atuação, fizeram com que eu me confundisse a ponto de não saber mesmo quem era ele e quem era o (ótimo ator) Pierre.

Do meio do espetáculo, que conta a história de um travesti cantor performático na Berlim Oriental e posteriormente nos Estados Unidos na mesma época da queda do muro de Berlim, há mais de 20 anos, Paulo realmente rouba a cena (mesmo sendo um cantor limitadíssimo).
O texto intenso, divertido e emocionante ao mesmo tempo, que faz com seu estômago e seu coração uma verdadeira montanha russa de sentimentos, de nada adiantaria se a verdadeira atuação acertada, na medida, firme e segura dos três atores (principalmente de Paulo, que sempre é e será o mais cobrado pelo seu passado de ex-namorado da Sandy e afins) não estivesse ali, presente, e acima de qualquer suspeita.

No fim da peça, tive o dever de apertar a mão de Paulo, olhar nos seus olhos e dizer: “Parabéns! Que mulher gata e gostosa que você tem (ela estava na platéia)!”. Mentira. Isso eu só pensei. O que eu falei de verdade foi: “Parabéns. Parabéns de verdade. Muito, muito bom.” Sei que não foram muitas palavras, mas tenho certeza que pela firmeza do aperto nas mãos e pelos meus olhos fixos nos dele, ele entendeu que eu tinha ficado verdadeiramente emocionado.

Paulo Vilhena me deu um soco no estômago e puxou meu tapete ao pisar naquele palco naquela quinta-feira de novembro de 2010 e provar que ninguém tem a obrigação de nascer sabendo. Mas todos temos o direito e o dever de aprendermos ao longo da vida. Paulo está aprendendo. Tenho certeza disso.

Quem também não nasceu sabendo foi Gadú. A Maria. Que não se chama, pra minha surpresa, nem Maria, nem Gadú. E que ainda tem que ralar bastante, principalmente nas letras de suas composições, pra ser considerada uma artista de primeira grandeza. Mas, que com apenas 23 anos, sem dúvida, é a maior artista de sua geração de músicos. Com metros de distância de qualquer outro segundo colocado. E no caso dela, não é só demérito da geração dela, não.

Mas da Gadú, em específico, vou falar na série de textos que começarei ainda essa semana com as minhas “Novas Meninas TOP 5 da música brasileira”. Vou falar rapidamente sobre o encontro mágico entre Gadú e Caetano que presenciei no último domingo, 08 de novembro, na concha acústica de salvador, e que vai rodar o país sob o título de DUO Caetano + Gadú.

Sou, por inúmeros motivos, fã incondicional de Caetano Veloso como artista. Claro que não dá pra separar completamente o profissional, músico, cantor e compositor Caetano, da pessoa Caetano. Hoje, (feliz ou infelizmente), muito do seu êxito como artista acaba sendo construído fora de campo. Fora das quatro linhas... do palco. E muito do que vejo as pessoas repudiarem no Caetano, tem a ver com a postura dele extra palco, fora o trabalho artístico. Eu adoro Caetano, de todas as formas. Mas respeito quem não gosta. Só peço que não misturem suas composições, discos e carreira, com suas declarações bombásticas, sua digressão em entrevistas e seus conhecidos, copiados e questionados bordões. Ou não.

No backstage desse lindíssimo show, pude notar quão inteligente emocional e artisticamente e quão generoso é Caetano. Tudo ao mesmo tempo, agora.
Convidar Gadú pra essa série de shows é, ao mesmo tempo, uma prova de generosidade e homologação que a cantora precisava pra ingressar num outro patamar de sua carreira, e, ao mesmo tempo, uma forma inteligentíssima de renovar seu público. Por que, na boa, pelo menos em Salvador (e acredito que possivelmente se repetirá ao longo de todo o Brasil), pelo menos 40% do público estava lá única e exclusivamente pra ver Gadú. É muito se pensarmos que do outra lado temos um dos 3 maiores artistas da música brasileira de todos os tempos.
O encontro foi emocionante e emocionado. Vozes, timbres e repertórios complementares e que em momento algum pareciam concorrer. Um show de bom gosto. Um projeto que não parecia (como por exemplo, foi Ana Carolina e Seu Jorge) um projeto, e sim um show de amigos de longa data que se curtem, se respeitam e se divertiam visivelmente no palco.

Gadú casou imenso frisson na meninada que compõe seu público, levando a concha abaixo já na sua entrada. E assim foi da abertura com os dois cantando Beleza Pura, e seguindo com a cantora sozinha no palco, desfiando seu repertório autoral, cantado em uníssono pela platéia, ao fim. Quando eu achava que (parece heresia, mas não é), ia ficar ruim pro lado de Caê (a molecada tava histérica com Maria), ele me puxa “Sozinho” (mais uma prova do quão inteligente é a carreira do cantor e intérprete Caetano, que se apropria de hits de estilos tão, aparentemente, divergentes ao dele, pra penetrar de forma tão delicada e pouco invasiva no universo, no ouvido e casas de públicos que jamais se interessariam por seu trabalho autoral) e Alegria, Alegria, redimensionando as grandezas artísticas em questão, fazendo os 5.000 presentes irem ao delírio e dando de leve um “Menina, você é boa. Boa demais. Mas quem manda aqui é o papai.” Tudo com uma classe, elegância e um carinho impares.

“O” momento do show, em minha opinião, foi o baiano e nordestino Caetano Veloso, cantando com a paulista Maria Gadú, o hino Sampa, na concha acústica de Savador – BA, emocionando a platéia inteira e dando, sem nenhuma intenção ou discurso, um ponto final nesse rebuliço causado por meia dúzia de bobos, preconceituosos e mal educados meninos e meninas sulistas na repercussão virtual sobre o resultado das eleições presidenciais. Gadú galgou um novo degrau do seu espaço com essa assinatura de Caetano. Caetano rejuvenesceu uns 20 anos seu público com esse mimo em Gadú. E tudo certo. Como 2 e 2 são 5.
A turnê, provavelmente passará pela sua cidade. São 8 ou 9 shows, se não me engane.
Perca essa não, rei. Se não vai ser um “shimbalauê nos acuda”!!!

= ) Perguntar não ofende: ser uma versão “ainda mais sertaneja ”, conforme a divulgação abaixo da música nova de trabalho de Latino com a dupla João neto e Frederico, é bom ou ruim?


Ouvindo: trilha de I am Sam (entrando na vibe do Paul).