terça-feira, 19 de abril de 2011

A Indústria da Beleza vs O Flerte Fatal ou como está complicado se apaixonar

Sábado, nove de abril, consegui enfim conferir uma Edição “Vivo Rio” da Coordenadas, uma das minhas festas preferidas na atual cena carioca. Curti. Bastante. Fui sozinho (ok, combinei com Bené e Aline Repórter na porta, mas sabia que as duas não iam agüentar muito tempo, não é meninas?rs) e encontrei uma dezena de amigos e conhecidos. O preço das bebidas não fugia em nada aos padrões “estipulados” hoje na noite (R$5,00 a Skol/Antártica) e as filas eram bem suportáveis. Músicas, como sempre, muito divertidas (Dodô fazendo escola) e (pro meu gosto) dançantes all night long, além da boa freqüência. Claro, uma festa que atingiu o patamar de reunir entre 1.500 a 2.000 pessoas, não pode ser composta homogeneamente por nada, muito menos só por pessoas “legais, antenadas e descoladas”. Havia sim uma playboyzada/patyzada maior que “no de costume”, mas nada que me incomodasse. Pelo contrário. Os playboyz me divertiram (um gritou na fila da cerveja, atrás de mim: “Búzioooooos”!) e as Patys me inspiraram na viagem filosófica/comportamental que tive e vou descrever-lhes. Tudo sob o mais total e completo controle!

 Depois de algumas cervejas na cuca, parei pra pensar que já eram por volta de 2:45h da manhã e apesar da quantidade abissal de mulheres “bonitas” (explicarei as aspas), eu só havia me interessado (o interesse fugaz/flerte inicial que uma noitada comporta) por duas ou três garotas, no máximo... e CONHECIDAS! Ou seja: as únicas meninas que de alguma forma me chamaram atenção naquele tsunami de muié eram justamente pessoas que eu já tinha, de alguma forma, no meu convívio!
Parei na parte externa da pista, onde tinha uma visão ampla e um pouco distanciada da situação e comecei a observar: era impressão minha, eu já havia bebido muito ou realmente só havia (ou havia predominantemente) mulheres bonitas naquele recinto? Pelo menos de jeitosas pra cima. Onde estavam as mulheres medianas? As feias??? Onde se meteram as barangas, cassete?????

Eu não estava bêbado! Havia ingerido, no máximo, umas cinco cervejas. Comecei a olhar de forma mais minuciosa e criteriosa. Seriam as roupas? As roupas favorecem muito nos dias de hoje. Os decotes? Os saltos, pernas de fora? Os cabelos muito bem tratados? Ou tudo isso junto?
É... começava a fazer sentido. As mulheres não eram necessariamente bonitas. Mas elas tinham, todas, as lindas, as bonitas, as médias e as feias, uma grande aliada: a Indústria da Beleza a seu favor! Sim! Era isso. Até ai tudo bem. Nenhuma novidade. Num mundo atual onde temos rígidos padrões estéticos e eles influenciam de forma avassaladora na vida de todos nós, homens ou mulheres, não há absolutamente nada de errado ou anormal em mulheres com padrão financeiro (sim, por que é uma noite que no barato se gasta de R$80,00 a R$150,00) relativamente elevado se preocupem e invistam nisso.
Não há silhueta que não fique efetivamente melhorada num desses vestidinhos tomara que caia com bojo pra dar um up nos seios, tecido mais firme pra segurar as gordurinhas extras (que podem tb estar mais seguras ainda por essas moderníssimas cintas de barriga, culote, pernas, e até clitóris, pras mais avantajadas), ou as saias de cintura alta com aqueles cintos embaixo dos peitos que dechavam qualquer barriga mais desprovida de... abdominais.

Não há cabelo que não fiquei lindo, macio, sedoso como o da Gisele Büdchen na propaganda do Pantene. Ou lisérrimo como os da Luiza Brunet ou Cléo Pires, ou no ruim (ou bom,pq eu me amarro) de tudo, com cachos perfeitos, cachos colágeno como os de Tais Araújo by Elseve (de Loreal). Claro que sem as progressivas inteligentes, marroquinas, indianas, venusianas ou sei lá o que mais diabos metem no cabelo dessas meninas pra fazer um escovão, não teríamos o efeito “pode chover, pode molhar que meu cabelo continua no lugar”.

Cremes, óleos, massagens, tratamentos de pele, de dentes, unhas, tudo isso é basicão.

Entrando no mérito das intervenções cirúrgicas, nos dias de hoje, qualquer menina que sofreu bullying a adolescência inteira pode passar horas se deliciando com tocos seguidos no ex-príncipe do colégio chegando nela numa festa 15 anos depois do encerramento do ciclo secundário, sem obviamente ter a mínima idéia que aquela era a “nariz de papagaio” ou a “tábua de passar roupa”, a desengonçada da turma. Seios enormes, firmes, desafiadores podem ser fabricados de qualquer tamanho ou formato em até 24 vezes em juros no cartão. Barrigas tanquinho, lipoaspirações, lipoesculturas, lábios mais grossos, narizes mais finos, tudo se compra, tudo se fabrica.

Sem contar as horas de academia com os mais modernos aparelhos e formas de definir seu corpo com personal trainer a tira colo.

Ou seja, somando tudo isso, a feia ficou “ok arrumada na noite”. A “ok arrumada na noite” ficou gata (ou no ruim de tudo, gostosa pra cassete). E a gata ficou insuportável (taí a explicação das aspas pro “bonitas” lá de cima)! É um mundo de opções pra ver e serem vistas!
O sujeito chega num lugar desses e não sabe pra onde olhar. Não sabe onde focar! Eu achei que só acontecia comigo. Ok! Eu sou um “sem foco do caralho”. Sempre fui. Mas notei que no fim da noite, um monte de caras boas pintas, cara de bons partidos, e principalmente, cara de quem tem carro e mora sozinho no Jardim Botânico (que não é meu caso), estavam solteiros. Assim como 70% daquelas gatas (fabricadas ou não).

Parece que a verdadeira beleza (que é uma conjunção de várias coisas, como por exemplo, estar dentro dos padrões estéticos mundiais que é mensurável, até ter charme, que é subjetivo) está sendo cada vez mais submersa pela beleza comprada, por mais clichê que esta bosta desta frase possa parecer!  E por mais clichê que continue parecendo, quanto mais se preocupam em moldar seus corpos , esculpir seus rostos e alisar seus cabelos, mais relapsas ficam em relação a fazer com que o conteúdo acompanhe a forma. Se o Adnet não fez ainda, ele pode tranquilamente gravar uma paródia das Cariocas, com o material que temos hoje nas noitadas, começando pela “Fútil da Gávea”, passando pela “Sem Cultura da Barra” chegando até a “Queria ser Fútil como a da Gávea e consigo no máximo ser Sem Cultura como a da Barra... do Lins”.

Tenho pra mim (não vou afirmar/generalizar pois preciso de um estudo mais detalhado) que a Indústria da Beleza está saindo, de certa forma, como uma espécie de tiro pela culatra para o resultado final (que todos sabemos que é “arrumar um grande e verdadeiro amor”) e dificultando (ao invés de ajudar) o pontapé inicial do jogo, pelo menos para nós, homens heteros do sexo masculino, no advento da paixão.

Ao menos da paixão inicial, fugaz... daquele amor a primeira vista, frio na barriga que acontecia antigamente na praia, na boate, na rua, na chuva, na fazenda... por que se todas são bonitas, o que pode diferenciar numa primeira olhada? Num primeiro flerte? Por que vamos ser honestos: a primeira impressão vem invariavelmente da parte física. Claro, soma-se a isso carisma, charme, sensualidade, uma série de fatores que diferenciam uma mulher interessante de uma dessas modernas (e perfeitas) bonecas sexuais de látex ousei lá que materiais, vendidas no Japão. Mas uma aparência agradável, ainda é a isca primordial. A mulher inteligente, e que fatalmente será bem sucedida, é a que consegue equilibrar as duas coisas. E principalmente, ser autêntica.

Soma-se a isso também um falso excesso de auto-estima gerado pela soma da “enganosa” aparência à falsa idéia de que pra se valorizar e se impor tem que “meter uma marra, uma bronca”. “Não dá mole não! Nem olha pra eles... homem gosta de mulher difícil!” - diz a amiga gata de nascença para a ex-gordotinha que malhou o ultimo ano inteiro, fez dieta, tomou bolinha e esta se sentindo “confortabilíssima” apertada com a cinta, o vestido cintura-alta curtinho mostrando as pernocas com o músculo da coxa pulando em virtude de um salto 15.
Mentira! Homem não gosta de mulher difícil. O jogo da sedução existe. O interesse num peitão gostoso pulando num decotão existe. Mas na real, real, homem (e seres humanos de um modo geral) gosta de pessoas legais. Maneiras. Divertidas, agradáveis.
E pra isso, ainda não existe uma industria.

Ouvindo: Rádio Setentona na Cidade Web Rock (http://setentona.oi.com.br/)