sábado, 17 de abril de 2010

O Eletro



- Gente, esse é o Manfredo. Esse aqui é o Artur. Eles são do Eletrodomésticos e vão dar uma canja com a gente no próximo Hard Rock, quarta que vem. É a música do Choveu no meu Chip... – Nos comunicou Marcelo Reis.

- Ah! Maneiro!!! – respondi empolgado.

Fato que eu era o único ali do Som da Rua que tinha idade para lembrar do hit que invadiu as rádios no final da década de 80.

Isso há pelo menos uns oito anos. Em meados de 2002, se não me engano. O ensaio foi ótimo. Eles gostavam muito do trabalho (o trabalho que o SDR ainda estava moldando) da gente. Tocamos, se não me engano também (pelo menos no ensaio levamos ela) “O Tempo”, bela balada, única parceria do Liô com o Nettinho. Tocamos alguma coisa de Legião e, claro, “Choveu no meu chip”. A canja foi uma delicia, e de lá pra cá, o Som da Rua e o Eletro (eles tiraram o “domésticos”, que dava um ar meio datado há um trabalho que estava em franca modificação e evolução) viraram bandas co-irmãs. Lembro da primeira musica do Eletro (ainda com cara de “domésticos”) que toquei na Vez do Brasil, programinha dominical que apresentava com bandas novas na extinta Rádio Cidade. Chamava “Políticos”. Lembro também da alegria que senti quando recebi a demo que continha “Pra continuar”, já sob a alcunha e com cara de Eletro. Lembro de ter falado com o Liô: bacana, heim! Os caras estão amadurecendo pra caramba! Ele também achava isso. Liô era fã incondicional, assim como eu, do Eletro.
Recordo-me com carinho e muita saudade do nosso primeiro show juntos. No Cultural Bar em Juiz de Fora. Nessa ocasião, onde conheci o restante da banda, achei que o pequeno (em estatura, mas não em talento) e calado Alexandre, que parecia ser bem mais novo que o restante da galera, antigo baterista, era filho do Manfredo!!! Na hora da passagem de som perguntei ao Marcelo Reis ao ver o menino sentar na bateria:

- Legal... o filho do Manfra também é baterista?
- Filho? Que filho?
- Esse menino ai sentado na bateria!
- Não! Ele É o baterista! E NÃO É filho do Manfredo!
- Putaqueopariu....

O show foi divertidíssimo. Artur cantou Don´t look back do Oasis com a gente. Artur e Manfredo se tornaram amigos pessoais. Pessoas que tenho no meu circulo de amizades mais queridas.

Assisti há shows memoráveis do Eletro. No Teatro Odisséia, no Humaitá pra Peixe (com o Reverse), onde eles tiveram peito para fazer um show onde o divertimento suplantou à “marrinha blasé” que muitas bandas indies tinham ao tocar no festival. Transformaram o Sérgio Porto num grande baile com todos dançando e cantando no bis ao som de Smiths!!!!!!! Nem todos entenderam a proposta. Mas quem estava ali se divertiu ate a raiz do cabelo. Me emocionei também no show do Canecão, com lindo cenário da emblemática tomadinha e luzes penduradas. Tudo com muito bom gosto. Teve também a dobradinha que fizemos na Melt, já com o Emilio nos vocais do SDR, onde encerramos a noite todos juntos no palco tocando Back in the USSR

Na época do falecimento do Liô, muita gente se manifestou e nos deu força das mais variadas e belas formas. O Eletro inseriu Tanto Faz (única parceria minha e do Liô no Musicas para violão e guitarra) em seu repertório e durante muito, muito tempo, levaram o trabalho do SDR há diversos lugares e a diversas pessoas. Muitas que nçao chegaram nem a conhecer o SDR. Essa foi, sem duvida, uma das melhores e mais tocantes homenagens que a banda e o Liô poderiam receber. A eles sou muito grato por isso. Fora o fato da música ter ficado tão boa (ou melhor) na interpretação deles que na nossa!!!rs

Recentemente a banda teve duas baixas: o baterista Alexandre (que junto com o Alex no baixo formavam um dos mais dançantes e competentes grooves do rock carioca) e o guitarrista Bruno.
Bruno recebeu uma proposta de trabalho fora do RJ e não pode recusar, pelo simples fato de não conseguir ganhar, nesse tempo todo, grana com a (excelente) musica que sua banda fazia.
Bruno pra mim era um caso á parte. Bruno era o Johnny Marr brasileiro. Eu falei isso algumas vezes. Não sei se diretamente pra ele, ate por que ele era tão, tão tímido que às vezes parecia meio inacessível. A criatividade e o bom gosto, a simplicidade e a beleza dos arranjos, a conversa afinada com a guitarra do Manfredo (que também é um grande guitarrista) e a elegância com que Bruno defendia aqueles acordes, fez dele, na minha humilde opinião, um dos melhores guitarristas da nossa cena e um dos melhores que vi em ação.

Fora o Artur. Sou fã do Artur. Do cantor. Considero o Artur um dos 10 ou 15 melhores cantores pops do Brasil. Não da musica indie. Da musica em geral. Gosto da sua forma de cantar. Ele desenvolveu personalidade fortíssima. Um timbre lindo. Uma voz afinada. O vibrato, que em muitos cantores se torna uma praga brega a ser exterminada, no Artur é uma característica muito bacana e marcante. No palco, ele é carismático e tem uma excelente presença e performance. A “dancinha” do Artur (que já era a dancinha do Artur antes de existir a dancinha do Amarante) é muito, muito legal!

Ver o Eletro tocando, ainda hoje, além de me dar um grande orgulho por saber que de alguma forma fiz parte dessa historia bacana, me toca profundamente por dois motivos em especial:

Primeiro por que eles são um dos poucos bons remanescentes da minha cena de músico. Da cena que eu fiz parte, militei e defendi com unhas e dentes por quase dez anos. Da cena de bandas como Reverse, Mutreta, Polar, Som da Rua, Gram, Columbia, Stereobox, Terceira Via, Lasciva Lula, Filhos da Judith, Rabugentos, Detonautas e por que não, Los Hermanos, dentre outras. Algumas ainda estão na (árdua e quase inglória) batalha. Mas a grande maioria, por motivos diversos, mas nunca passando pela falta de qualidade artística, enceraram prematuramente suas atividades. Sem apoio das mídias, sejam os coleguinhas jornalistas que insistiram em ignorar nossa cena, sejam os radialistas que não tiveram sensibilidade de enxergar que apesar de não ter dinheiro pra pagar jabá, essas bandas tinham qualidade e senso pop para se tronarem uma cena tão popular quanto foi a do rock dos anos 80), e sem ganhar um real com sua arte, realmente fica muito difícil, quase utópico, manter uma banda de pop rock (não falo de Cines, Horis e NxZeros em geral, pois essa rapaziada faz uma outra coisa que ate hoje não consigo identificar o que é) de meados de 2000 para cá, principalmente no Rio de Janeiro.

E por fim, por que ver o Eletro no palco defendendo suas belas canções com alma e paixão, me lembra muito da minha própria banda, minha própria historia com o Som da Rua. É como se estivéssemos ali no palco. Todos juntos ainda. Felizes. Fazendo música da forma mais sincera e visceral possível.

Domingo, dia 18 de abril (amanhã) estaremos todos juntos novamente, por que depois de um longo e tenebroso inverno e da entrada de dois (ótimos) novos integrantes (Rodrigo na guitarra e Vitor na bateria), O Eletro lançara, enfim, seu primeiro e excelente disco intitulado brilhantemente de Lembra o Amanhã.
Se você gosta de musica, sem se preocupar com imagem, com pose, com rótulos, simplesmente de musica, boa musica, musica para alegrar, emocionar e, principalmente, dançar como se não houvesse hora pro baile acabar, junte-se a nós no Estrela da Lapa a partir das 21h e venha se divertir. A nossa cena agradece.

Ouvindo: O Eletro

2 comentários:

  1. Foi muito emocionante ler esse post. Estarei lá amanhã com toda certesa. O Manfredo e o Arthur sempre tiveram muito carinho e cuidado comigo após a partida do Liô. Me emocionei algumas vezes assistindo as apresentações do Eletro. Ao executarem Tanto Faz, eles sempre olhavam em minha direção, como se estivessem me fazendo uma homenagem. Estarei lá homenageando a banda.

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