sábado, 25 de dezembro de 2010

Um excelente Natal pra todos!!!







Era uma vez, num lugar tão, tão, tãaaaaaaaaaao distante, localizado entre as províncias de Santa Cruz e Itaguaí (pertinho... de Fernando de Noronha), um povoado chamado Nova Lapônia. Esse outrora simpático e pitoresco lugarejo, um belo (???) dia tornou-se alvo de duas terríveis facções milicianas que passaram a disputar palmo a palmo o controle das “nights” locais: o Comando Sertanejo Universitário + Eletrônico (com combo de Smirnoff Ice + Red Bull) contra a Falange Pagofunk + Hip Hop (com cerveja a R$0,99 a noite inteira).

No meio do fogo cruzado, um bondoso velhinho chamado Noel, que era responsável pela resistência cultural local, promovendo festas supimpas com boa música na sua birosca de beira de estrada, logo passou a ser perseguido por ambos os grupos de meliantes. Noel, cansado de ser esculachado e pagar o “arrego” pros bandidos, resolveu fechar seu estabelecimento e caiu em profunda depressão, tornando-se um sujeito amargo, avarento e entregando-se ao vicio das drogas, enchendo a cara de Luan Santana e Jeito Moleque.

Compadecidos com a situação do seu ex-chefe, os Duendes garçons e Rudolf (a Rena do Nariz Vermelho), a gerente do boteco do Noel, resolveram procurar ajuda: alguém que pudesse tirar o pobre ancião da inércia e fazê-lo voltar ao batente (mesmo tendo passado dos 65 anos), trazendo uma pontinha (no sentido licito da palavra, é claro) de esperança para a juventude pensante e dançante da Nova Lapônia.

E agora, quem poderá nos defender?

Modinha! A festa, orgulhosamente apresenta: Um Conto de Natal.

Imbuídos do espírito (natalino) de ajudar Noel e salvar o Natal de novalaponenses e cariocas, nossos bravos heróis embarcam numa odisséia épica de dimensões sem precedentes na história do entretenimento noturno do Rio de Janeiro e promovem a maior festa de Natal da Cidade (depois do especial do Roberto Carlos e da Missa do Galo, obviamente)!!!

DATA:

Sábado, dia 25 de dezembro, a partir das 22h!
Antes que alguém venha encher o saco com esse papo de “Ah! Mas é Natal... blá, blá, blá”, me responda: O QUE DIABOS VOCÊ FAZ NO DIA 25 DE DEZEMBRO A NOITE??? JANTA COM SUA FAMÍLIA FAZENDO O “ENTERRO DO ENTERRO DOS OSSOS” DO ALMOÇO (QUE JÁ ERA A SOBRA DA CEIA)??? ASSITE AO ESPECIAL DO ROBERTO CARLOS??? JOGA WII COM SEUS PRIMOS DE VILA VALQUEIRE QUE VIERAM PASSAR O NATAL NA SUA CASA E APROVEITARAM PRA FICAR ATÉ DOMINGO (MAIS UM MOTIVO PRA VOCÊ NÃO ESTAR EM CASA)???
Ah bem... imaginei.

LOCAL:

O mais novo e aclamado local para shows, festas e eventos do Rio de Janeiro: Espaço Acústica, na esquina da Praça Tiradentes com Rua da Carioca, próximo ao Cine Ideal (pra quem é de Cine Ideal), ao Cine Iris (pra quem é de Cine Iris), ao CCC (pra quem é de CCC) e dos Teatros Carlos Gomes e João Caetano (... hum... não é nosso público alvo). No coração do Rio, entre a Lapa e o Centro. Um espaço incrível, com três andares, som e luz de última geração, banheiros e caixas (para pagamento em dinheiro e com TODOS OS CARTÕES DE CRÉDITO) em todos os andares e o sensacional terraço com uma linda vista panorâmica do Centro do Rio, pra assistir se acabando de dançar, ao sol nascer redondo!
LOTAÇÃO: 1000 PESSOAS.

DJs:

Dessa vez, pra salvar o Natal do Noel, a Modinha recrutou os “Três DJs Magos” e abriu duas pistas pro som rolar até o amanhecer:

- DJ J.R. e o espírito do Natal Passado (Pista Terraço) – miscelânea musical + rockzinho do bom + lados bs que só ele acha que todo mundo conhece + 60, 70, 80 e 90.
- DJ Chu e o espírito do Natal Presente (Pista Principal) – miscelânea musical + brasilidades pra remexer o traseiro + bonsfanfasradiohits bem mixados + 00 e 10.
- DJ Sandrinho Black e o espírito do Natal Futuro (Revezando nas pick ups das duas pistas) – miscelânea musical + Black (afinal, um pretinho básico não só não sai de moda, como sempre será tendência).



ATRAÇÃO ESPECIAL:

Mas não é só! Pra afastar de vez o mal olhado, as saias de cintura alta com chapéu de cowboy, as camisas regata e braços cheios de esteróides com gel no cabelo, o Jorge & Matheus e o Sorriso Maroto, os “Três DJs Magos” recebem o auxílio luxuoso e poderoso do bloco mais irreverente e rock n´roll do Carnaval carioca: BLOCO CRU, num show imperdível, tocando no palco principal do Espaço Acústica os grandes clássicos do rock em versões “momescas”, pra geral bater cabeça e mexer o bumbum!

DJ/Ator CONVIDADO:

Se tudo der certo, nossos heróis cumprirem sua missão e a profecia se concretizar, Noel, o bom velhinho voltará a ser... o bom e velho velhinho!!!  E assumirá as carrapetas como DJ/Ator CONVIDADO, provando que a Nova Lapônia, assim como o Complexo do Alemão e a Vila do Cruzeiro, estará livre das forças do mal e de toda musica ruim!
Quer saber como termina essa história? Então não perca a edição natalina da Modinha, sábado, 25 de dezembro no Espaço Acústica.
Nos vemos por lá!

SERVIÇO (pra quem, obviamente, parou de ler na terceira linha dessa baboseira toda):

Data: sábado, 25 de dezembro
Horário: 22h
Local: Espaço Acústica (Praça Tiradentes, números 2 e 4 – Centro) / telefone : 21 2232-1299
http://www.espacoacustica.com.br/site/
Ingressos:
R$25,00 – lista amiga até 01h (emails até dia 25/12, 20h para lista.amiga@modinhafesta.com.br)
R$30,00 – na hora do evento
Informações: http://amodinhafesta.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O compositor



Há exatos cinco anos, na madrugada do dia 13 de dezembro de 2005, o jovem e talentoso músico Liô Mariz, cantor e compositor da banda Som da Rua, falecia num trágico e fatal acidente de carro no cruzamento das ruas Joana Angélica e Visconde de Pirajá, Ipanema (Zona Sul do Rio de Janeiro).

Hoje, cinco anos após a morte de Liô, abro mão da condição de amigo (ele era um dos meus melhores amigos em quase 11 anos de convivência), sócio (fundamos juntos o Som da Rua) e testemunha ocular da tragédia (eu estava sentado no banco do carona do carro no momento da batida) para como fã e amante da boa música render uma homenagem um pouco diferente ao COMPOSITOR carioca Leonardo Mariz de Oliveira Rezende fazendo aos amigos e leitores desse blog um apelo: NÃO DEIXEMOS QUE O LEGADO ARTÍSTICO/MUSICAL DE LIÔ MARIZ SE PERCA. NÃO DEIXEMOS QUE CAIA NO ESQUECIMENTO ESSA OBRA (QUANTITATIVAMENTE PEQUENA, PORÉM DE QUALIDADE INFINITA) DE POUCAS, MAS EXCELENTES CANÇÕES, CONSTRUIDAS AO LONGO DE APENAS SETE ANOS DE CARREIRA, VIREM APENAS MEGABYTES DEIXADOS DE LADO EM ALGUMA PÁGINA DA GRANDE REDE MUNIDAL DE COMPOSITORES.

Aclamado por diversos músicos consagrados (o mais significativo selo de qualidade das composições de Liô foi ter no seu hall de fãs confessos, o seu maior ídolo nacional: Lulu Santos, que um pouco após a morte do garoto, dedicou inteiramente a ele, num show no Canecão, toda a turnê do disco Pop Star) e influenciando desde músicos contemporâneos a ele a jovens que viriam a conhecer seu trabalho após sua morte, Liô tinha uma característica rara nos dias de hoje: era um compositor completo. Quando digo “completo”, me refiro ao fato de ele ter sido, além de um excelente melodista (tendo também um bom domínio dos caminhos harmônicos da canção pop), um letrista (apesar de ter apenas 23 anos quando faleceu, e de ter composto suas principais canções entre os 19 e os 23) excepcional, de rara identidade e poética, com cuidados técnicos como já não se vê hoje na música pop, além de uma maturidade impressionante pra alguém tão novo.

Obviamente não foi sempre assim. Se examinarmos a obra de Liô Mariz com cuidado e critério, vamos descobrir e entender que quando o Som da Rua iniciou seus trabalhos, em 1998, Liô era um compositor mediano. Mas, pelas suas idéias e pouquíssima idade, eu já identificava nele um potencial absurdo. Nessa época, ouvíamos o que tocava nas rádios, e queríamos apenas montar uma banda com o objetivo de, justamente um dia, ter uma música nossa tocada numa rádio! As influências eram Skank, Jota Quest, Paralamas, e um pouco depois, O Rappa. Queríamos fazer uma mistura de musica pop internacional (reggae, rock, Black music) com ritmos, levadas e influência da música brasileira (daí o nome Som da Rua, que depois acabou ficando um tanto quanto inadequado). Dessa época, temos composições bem juvenis, que não tiveram registro em CD como “Não dá”, “Quando a noite chegar” e “Pode ser”.

O disco de estréia da banda Maskavo Roots pelo selo dos Titãs (Banguela Music), comprado por mim na Gramophone do Centro pela bagatela de R$3,99 e emprestado (ad eternum) pro Bolota, foi um dos grande responsáveis pela mudança de fase. A banda candanga (que posteriormente excluiu o Roots do nome e virou apenas uma banda de pop reggae), fazia uma mistura muito boa do reggae com rock n´ roll e influenciou diretamente as composições de “A Ladeira”, “A Nova” e “Perto do Mar”. Lenny Kravits e sua junção incrível de funk, soul e (como sempre) rock n´roll também estavam cada vez mais freqüentes no cd player do rapaz completava então a maioridade.

Numa tarde de algum fim de semana de 2000 cheguei a sua casa na Travessa Visconde de Moraes em Botafogo (onde passávamos todas as tardes de sábado e domingo enfurnados no quartinho de trás, tocando nossas canções na altura máxima) com o disco Maquinarama do Skank (autografado pelo próprio Samuel Rosa) em mãos. Imediatamente fui mostrar para o meu amigo o quanto aquela banda que curtíamos pelo som pop que fundia reggae e dancehall com ritmos nacionais havia amadurecido e ganho o veneno do rock (e até um certo psicodelismo) com aquela emblemática (pra eles e pra nós) bolachinha. A partir daí surgiu “Te dar mais uma chance”, a primeira música de Liô e do Som da Rua com uma levada e pegada nos moldes clássicos do rock.
Depois de uma demo (99) e um disco independente (2002) bastante irregulares artisticamente, sentia que o melhor, que algo realmente grande, ainda estaria por vir. Liô mergulhava cada vez mais e mais fundo num trabalho de pesquisa e estudo da obra dos Beatles. Ouvia cada vez mais rock contemporâneo (Foo Fighters, Queens of The Stone Age, Oasis, etc) e rocks clássicos (Led Zeppelin, The Who) e entendia o mecanismo de composição dos FAB four e dos que se influenciaram diretamente pelo quarteto de Liverpool. Liô amadurecia internamente como compositor e como pessoa, e estava prestes a explodir.

Clower Curtis, assumiu as guitarras da banda após a saída do Marcelo, irmão de Liô e um dos meus melhores amigos desde a época de colégio. Era o ano de 2002 e tínhamos uma temporada de shows no Hard Rock Café em andamento. Clower era experiente (vinha da badalada banda O Berro) como músico e produtor, além de um cara gente fino ao extremo. Nossos problemas estavam resolvidos! Mas Clower simplesmente não quis ficar na banda por que considerava não só as músicas bobas, como tinha certeza absoluta que podíamos fazer algo bem melhor. Aquilo nos abalou demais. Principalmente ao Liô. E nos instigou a vir com algo diferente. Tempos depois, Clower seria o produtor da Demo 2003, o disco que marcou a melhor fase da carreira da banda.

Numa viagem para i sitio de Liô, algumas semanas após a saída de Clower e da já incorporação de Diogo Salles (amigo de longas datas que já havia sido nosso roadie, e que estudava guitarra justamente com Marcelo) à banda, o “moleque” mostrou, numa noite, após algumas cervejas, pela primeira vez pra gente “Só uma canção” e “Ninguém aqui”. Os instrumentos estavam lá com a gente e lembro-me de, na mesma hora, todos nós nos empolgarmos à ponte de ir imediatamente tocar as novas canções até que um esboço das mesmas fossem concluídos. 
A partir daí vieram “Tudo em seu lugar”, “O Avesso”, “Tão Suspeitos” (inicialmente composta pra ser mostrada pro amigo Toni Platão, mas que malandramente convenci Liô de que ele poderia mostrar, contanto que nós gravássemos ela antes), e um sem números de músicas que não chegamos a gravar. Liô havia se tornado uma máquina de compor. Ele compunha todos os dias. Uma ou mais musicas por dia. Lembro com carinho especial de “Boas Novas” (a música que ele me deu de presente de aniversário) onde mostrou todo seu poder de observação e sintetizou em poucos versos, suas observações acerca de quase 10 anos de amizade:
Não se prende por ninguém
E não assume a condição
É mais forte do que quem
Diz saber o certo em vão
Carinho especial também não falta a outras duas composições do disco “Musicas para violão e guitarra” (2005), que marcou nossa estréia dentro de uma grande gravadora (Deck Disc).
Uma delas é “Quando Tudo Acaba”, a última música a entrar no disco e que se tornou não só uma das preferidas dos fãs da banda, mas uma unanimidade entre os cinco integrantes do Som da Rua.  Versos como os de abertura da primeira (Faço juras de amor pra quem vem / E vendo meus sonhos pra quem quiser / Dias como os meus) e segunda partes da letra (Escrevo cartas de amor pra ninguém / Em formas estranhas de se contar /Sobre o meu lugar) trazem uma gostosa e suave melancolia e produzem imagens instantâneas na nossa mente, efeitos que só as grandes composições dos grandes mestres e arquitetos da canção conseguem.
A outra é “Tanto Faz”, a única parceira minha e dele do disco de 2005. Parceria no papel! Por que na verdade, Liô me deu a música pronta! Eu apenas coloquei meia dúzia de palavra, mudei alguns tempos verbais, enfim... dei uma corrigida de leve pra que a música, que já era excelente, ficasse mais fechadinha. E só mesmo. Liô não gostava da música por que a gente não conseguia fazer um arranjo a altura e queria inclusive que a música não entrasse no disco.
Mas batemos o pé!!! A música era uma das preferidas da banda. A história era boa: um casal que passa por constantes momentos turbulentos, onde uma das partes é totalmente subjugada à outra. Apesar de toda aquela paranóia, eles não conseguem se separar e preferem viver num inferno. O jeito é a parte servil, após um grito de libertação no refrão (Não vou mais, me prender ao que ao foi capaz / De encontrar / E agora pra mim tanto faz / Se ainda estás aqui), soltar as amarras e passar a ser a parte dominante, invertendo toda a imposição ao outro lado do relacionamento. A segunda parte da música é exatamente igual à primeira, só mudando algumas poucas palavras pra deflagrar que agora é o outro quem esta no poder.
Considero essa, tecnicamente, uma composição perfeita. Muito madura e inteligente, ainda mais pra um rapaz de apenas 23 anos.

Mas Liô Mariz era assim: maduro e inteligente. E é um ledo engano achar que ele tinha apenas 23 anos. Ele tinha 467. Esperto como só, o sábio ancião apenas se vestia desse invólucro carnal jovem para nos ludibriar e, de certa forma, ser aceito por seus amigos e pela sociedade a sua volta. Mas Liô não era daqui. E aqui não poderia permanecer.

Hoje, quando a saudade aperta, dou graças aos céus por ter essa obra a minha disposição, e coloco qualquer disquinho do Som da Rua na minha vitrolinha virtual. É como se ele estivesse aqui, do meu lado. E mentalmente, posso junto dele fazer o que mais gostava: bater um bom, delicioso e despretensioso papo, como se estivéssemos na varanda da casa 256 da Travessa Visconde de Moraes, numa tarde de verão na década passada.

Alguns artistas em atividade descobriram o trabalho de composição do Liô e tem regravado sua obra, como Lia Sabugosa (Olhe no Céu, canção que não chegou a ter um registro oficial do SDR, mas que gravamos numa sessão de ensaios), Voltz, boa e pesada banda de rock de São José dos Campos (Quando tudo acaba) e o amigo Daniel Massa no seu novo trabalho (o mesmo quando Tudo Acaba). Que eu saiba, é só. Imagino que diversos outros novos e já consagrados artistas poderiam fazer misérias com uma canção do potencial das de Liô Marix.

De Marcelo Camelo cantando (com os Hermanos) “Ninguém Aqui”, passando por Jota Quest interpretando qualquer uma do disco do Orelhudo, Frejat emprestando sua voz poderosa a “Te dar mais uma chance”, até Cheiro de Amor ou Jamil cantando “Perto do Mar” e Rick Vallen “sofrendo” ao entoar só no piano e voz “O que se chama”, um mundo de possibilidades estaria aberto para a música pop e popular brasileira poder usar e abusar dessas pérolas (quase) escondidas.

Enquanto o dia do despertar não chega, como fã (talvez um dos mais ardorosos) do trabalho desse incrível e primoroso compositor, e da boa música em geral, peço a vocês que ouçam com atenção e carinho os links abaixo. Que prestem atenção nas letras. Que entendam os caminhos que foram percorridos até chegar ao resultado final. Ouçam essas canções como verdadeiramente deveríamos ainda hoje (mesmo apesar de toda massificação e produção em série da arte) ouvirmos. Com calma, com coração. Ouçam com o coração. E se possível, repassem essas belas canções a quem vocês amam. Certamente pra todas elas, essas músicas vão fazer algum sentido. Assim, Liô Mariz estará sempre, e para todo sempre, vivo. Produzindo, compondo, cantando e alegrando a todos, que era o que ele magistralmente sabia, como ninguém, fazer.

LINKS:





http://www.fotolog.com.br/SOMDARUA

P.S.: Bolota, manda um beijo pro meu pai, minha irmã e pro Netto! Bjunda.
Ouvindo: Som da Rua (2002 – o orelhudo)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Herói


Guerra é guerra.

Não existem meias palavras, meias intenções, meias entregas.
Não existem meias vontades, tampouco meias motivações numa guerra.
Não podem existir dúvidas e, jamais, nunca, em hipótese alguma, pode existir medo.

Guerra é guerra.

Não se entra “mais ou menos” em uma guerra.
Guerra é extrair forças de onde o ser humano jamais pudesse imaginar que pudesse existir força.
Guerra é coração, emoção e raciocínio interligados com precisão matemática.
Guerra é manter-se motivado, animado, de cabeça em riste, mesmo que uma batalha seja perdida.
Porque perder uma batalha, para um verdadeiro guerreiro, jamais significará perder a guerra.
Guerra é limite. É ir até o limite, e se necessário, ultrapassá-lo.
É ir do fundo ao topo.

Apenas nessas extraordinárias, singulares situações limite, um homem, até então normal, pode tornar-se um verdadeiro guerreiro. E um guerreiro, eternizar-se como um verdadeiro herói.
A última batalha foi vencida.
A guerra foi vencida. Com honra, dignidade e louvor.

Hoje, todos os corações do mundo, batem em verde, branco e grená.

Os guerreiros tricolores, definitivamente, tornaram-se HERÓIS.


Ouvindo: Hino do Fluminense

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A fila

Que as filas são cenários perfeitos para situações inusitadas e cômicas, beirando a desgraça e o desespero, ninguém tem a menor dúvida.
Porém, na manhã e tarde do último dia primeiro de dezembro, minha estadia na fila para comprar ingressos do jogo final do campeonato brasileiro de futebol de 2010, entre Fluminense e Guarani, extrapolou todos os limites do cômico, tornando-se, se não trágico, pelo menos desgraçado e desesperador.
Pela primeira vez na história, em virtude do fechamento prematuro (completamente filhodaputa, escroto, babaca, feio, bobo e mau #prontofalei) do Maracanã por causa das obras para a Copa do Mundo de 2014, todos os jogos até 2012 de médio e grande porte no Rio de Janeiro serão disputados no (simpático) Estádio Olímpico João Avelange, o famigerado Engenhão. Não fosse o fato de lá caber menos da metade da capacidade de público do Maracanã, o acesso ruim e a localização (não do bairro, antes que a galera da zona norte queira minha carne pro “surrasquim” de domingo, mas do entorno do estádio, sem nenhuma área de escape e fuga no caso de uma briga entre torcidas, por exemplo) pior ainda, não seriam problemas tão significativos.
Pois bem. Ao ver dois dias antes do inicio das vendas dos ingressos, pessoas acampando na fila na porta da bilheteria do estádio do Flu, na Rua Pinheiro Machado, pensei: FODEO.
E FODEO mesmo.
Já estava praticamente demovido da idéia (infame) de encarar a fila (tarefa que no fim das contas, tinha 85,7% de certeza que seria inglória). Pensei em dar um pulo na bilheteria às 9h da manhã (horário em que abriria pra venda de ingressos) e se tivesse uma fila gigantesca, voltaria tranquilamente pra casa e teria perdido 20 minutos do meu dia.
Já imaginava em que bar repleto de gatinhas, agito, cerveja gelada, sambinha, ar condicionado, pegação desenfreada, cheiro de hidratante Victória Secrets de baunilha e pagamento da conta no cartão de crédito, eu iria assistir ao Flu sagrar-se campeão nacional de futebol no ano de 2010. BG? Salvação? Algum “Garota” da vida? Veloso (ok... ai já é demais! Nem sei se passa jogo no boteco mais querido da playboyzada do Leblon)? Plebeu? Fosse onde fosse, minha diversão limpa e higiênica, somada à emoção pela vitória e conquista do campeonato já me garantiriam o melhor domingo dos últimos 26 anos. Afinal, quem precisa ir ao estádio lotado, quente, com gente (mesmo sendo tricolores, uma outra espécie, um outro nível de torcida) suada e odores questionáveis? Visão ruim do campo! Confusão. Tumultuo. Policia sempre atrapalhando mais que ajudando. Não! Aquilo não era pra mim.
E não era mesmo.
Oito da manhã de quarta feira chego às Laranjeiras para render Maria Carolina Benevides, que por obra do destino, encontrei às 23h do dia anterior, sentada com sua fiel escudeira Aline Salcedo no Boteco Badalado, na esquina da minha rua no Catete, e depois de 15 cervejas me convenceu a revezar com ela na “fila do desespero”. Fui dormir 3h da manhã, cheio do “alpiste” na mente e com a certeza de que tinha entrado na maior roubada dos últimos tempos.
Carol chegou às 3h na fila, que já alcançava a Rua das Laranjeiras, via Soares Cabral (veja no Google maps o drama da família tricolor). Dormiu, acordou, sentou na cadeira de praia de um rapaz que teve que ir embora pra fazer prova no colégio, fez amigos, cultivou olheiras, assistiu ao dia nascer, quase foi filmada pelas lentes da rede Record enquanto cochilava... e finalmente,  oito da manhã foi rendida por mim. As recomendações pareciam simples:
- Toma o dinheiro do ingresso. Cada pessoa só pode comprar dois. Coloquei meu nome e o seu numa lista que será lida mais na frente quando começar a afunilar e só passa pro outro lado da fila quem tiver o nome na lista. Nosso numero é o 1447. Fica ligado nessa chamada e nesse número. Não vai ficar olhando pra mulherzinha que tá passando do outro lado da rua e perder a chamada! Entendeu?
- Sim, comandante!
- Ah! Eu usei a cadeira de um menino que saiu pra fazer prova o colégio! Quando ele chegar devolve a cadeira de praia pra ele. Vou pra casa, dormir duas horas, tomar um banho e ir pro trabalho. Boa sorte!
- Pra nós!
Pensei: “1447 vezes dois ingressos por pessoa, igual a 2894 ingressos. Mais uns 500 furões, vezes dois, igual a 3894... 4000 vá lá! Tá safo!!! Somos gênios da logística e estratégia na compra de ingressos em finais de campeonato, não somos???”.
Não somos mesmo.
A lista, assim como as cordinhas frágeis que tentavam organizar as filas, e os próprios organizadores das filas, eram bem falhas. E arquitetadas por torcedores que estavam ali há dois dias, cansados, exaustos, mas com uma boa intenção ímpar e louvável. Mas, como vocês sabem, de boas intenções o inferno está pavimentado. E não deu outra! Pela total falta de suporte do clube, de organização dos órgãos (in)competentes e envolvidos oficiais que deveriam ter a obrigação de estabelecer a ordem naquela fila e em toda a ação da venda de ingressos, aos poucos, as Laranjeiras foram se tornando um barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento.
Às 9h, quando as (apenas três, das cinco existentes) bilheterias abriram-se, as pessoas tentavam espantar o cansaço brincando, conversando, tocado violão (um maluco beleza chamado Edu com um Giannini caindo aos pedaços e completamente desafinando cantou toda discografia de Raul e Legião. Quando eu cheguei,ele começava a de Barão e Cazuza), cantando. Muitas vieram de longe, muito longe e estavam ali há 8, 10, 12 horas, esperando a abertura da bilheteria! Garantia de ingresso não havia. Mas pela lógica, o fato de serem o numero até 1000, 2000 (eram os números dos bravos que haviam pernoitado na fila) da lista “organizada” pelos torcedores de bom coração, lhes garantiam, ao menos, uma esperança grande de ter o cobiçado e sonhado passaporte pra felicidade suprema no olimpo futebolístico no domingo dia 05/12/2010.

A primeira frase ouvida no meu “turno filístico” foi proferida por um sujeito simpático, gordinho e muito bem humorado, com camisa regata listrada e ar bem malandro:
- Norte, “Sú, Lerte, Oerte”... pra mim o que cair tá valendo! Eu quero é tá “drento” da festa, meu camarada!!!
Naquele momento, senti-me aconchegado. Senti que ali seriam formadas boas amizades.
E seriam mesmo.
De certa forma, um orgulho (por ser tricolor) e um carinho (sabe-se lá vindo de onde), foram surgindo entre os torcedores e figuras interessantíssimas foram aparecendo. Além do “maluco beleza”, faziam parte da sua trupe uma menina, produtora, chamada, se não me engano, Clara, que apesar de morar na rua do clube, ficou ali, na fila, por toda a noite. Um casal com um namorado paulista e são paulino que acompanhava sua namorada. Um coroa de Niterói que já havia sofrido uns três enfartes, acompanhado por seus dois filhos. O rapaz dono da cadeira de praia. Dois senhores aposentados que se diziam “fiscais da natureza”. Um timaço de figuraças. Todos se ajudando, se apoiando, se organizando. Tudo, absolutamente tudo que a VERGONHOSA DIREÇÃO DO CLUBE NÃO FEZ. Nessa hora eu penso: formar um time com estrelas, competitivo, vencedor, é, de certa forma, respeitar o torcedor que compra ingresso e mantém o clube (junto com o patrocinador, logicamente), não é? Porque diabos então, na hora derradeira, onde o respeito e o zelo pelo torcedor (o maior patrimônio do clube) deve realmente existir, isso não acontece?
E não aconteceu mesmo.
Do meio em diante (por volta de meio dia) da fila, os boatos de que os ingressos mais baratos (nota: nas partidas anteriores os ingressos variavam de R$20,00 a R$40,00. Dessa vez, iam de R$60,00 a R$150,00) haviam se esgotado foram se intensificando. Ninguém da organização dava um parecer correto. Começamos a nos revezar para ir ao inicio da fila e tentar entender o que estava acontecendo. Quem ia, voltava assustado. Atônito. Sem conseguir sequer iludir um pouco os companheiros para que não rolasse um colapso coletivo. Nos 100 primeiros metros da fila, um amontoado de pessoas sem nenhuma organização se digladiava pra chegar ao curral final da bilheteria. Pessoas furavam fila sem a menor cerimônia. Policiais militares, aos montes, assistiam a tudo como se não fosse com eles. Não havia seguranças do clube nem naquela área mais tensa. Ou seja: caos total!
O que era boato se confirmou: os ingressos de R$60,00 e R$80,00 se esgotaram e com isso, muitas pessoas que estavam há 8, 10, 12 horas na fila, foram obrigadas a desistir e ir embora por que simplesmente não tinham dinheiro pra comprar os ingressos mais caros. Meu coração tricolor partiu-se em mil pedaços ao ver o simpático coroa de nikiti e seus dois filhos irem embora, tristes, cabisbaixos. Bem como os senhores “fiscais da natureza”, a amiga produtora, o maluco beleza... quase toda a trupe. De toda forma, mesmo revoltados, decepcionados e tristes, todos, sem exceção, partiram com dignidade e civilidade. Sem confusão. Sem briga ou gritaria, provando que eram muito mais nobres que a aristocracia podre escondida atrás dos vitrais importados da sede do clube.
E eram mesmo.
A fila diminui drasticamente e podemos chegar próximo ao tumulto (e embate) final. Após ficar mais uma hora parado no mesmo lugar e de ver o bololô aumentar em progressão geométrica, fui tomado pelo espírito de William Wallace, perdi completamente a compostura e iniciei uma revolução, levando uma boa galera de “mulão” até o front. Chegamos, nos esprememos e ali ficamos. Quase duas horas parados, há mais ou menos uns 30 metros do destino final, sem poder se mexer, respirando miseravelmente e sentindo uma catinga sem precedentes. Tudo que eu ainda conseguia resmungar era “vocês tem sorte (apontando pra bilheteria)!!! Se fosse o Flamengo na final, tava todo mundo queimado aqui! Eles iam “passar” geral!!! Quebrar tudo!!! Seus cagões de merda!!!”. E coisas do tipo.
Por volta das 16h (uma antes do horário previsto para o fechamento da bilheteria) e com uma multidão enorme ainda na fila, a espera de um milagre, a guarda municipal resolver se mexer e tentar organizar; algo que deveria ter sido feito há pelo menos umas 8 horas.
Depois de mais uma hora e quarenta e cinco minutos de espera na mesma posição, depois de ficar imprensado entre um negão na frente e um gorducho (ambos bem simpáticos, ao menos) atrás (se eu tivesse alguma mínima tendência homossexual, acredito que ela teria se manifestado naquele momento. Juro!), depois de suar como um porco indo pro abate, deixei meus (literalmente) suados R$150,00 nas mãos de uma simpaticíssima e competentíssima, além de muito ágil e com enorme boa vontade (#ironiaMode:on) atendente (detalhe: ela estava sentada e com um ar condicionado ligado que sentia-se do lado de fora da cabine) e sai com meu troféu nas mãos: um ingresso pro setor oeste inferior.
A bilheteria não fechou às 17h, e os ingressos mais caros continuaram a ser vendidos ate o fim do dia, como uma espécie de mea culpa da (des)organização.
Vergonha, revolta, tristeza. Sendo ou não campeões no próximo domingo, nós, torcedores do Fluminense (ou os torcedores de algum outro clube que pudesse estar na mesma situação), não merecíamos passar por uma situação ultrajante como essas, totalmente contrária à campanha vencedora e honrada que o time demonstrou ao longo de todo o campeonato, dentro de campo.
Não merecíamos mesmo.
QUE FIQUE CLARO: A REVOLTA NÃO E POR CONTA DOS (APENAS) 31MIL INGRESSOS POSTOS A VENDA. ISSO NÓS SABIAMOS QUE SERIA COMPLICADO MESMO. MAS SIM, COM A DESORGANIZAÇÃO TOTAL E TOTAL FALTA DE RESPEITO AO TORCEDOR, QUE DEVERIA SER, O VERDADEIRO DONO DESSA FESTA.
Sorte pra nós. Todos.
Ouvindo: Sheryl Crow (Best of)