sábado, 25 de dezembro de 2010

Um excelente Natal pra todos!!!







Era uma vez, num lugar tão, tão, tãaaaaaaaaaao distante, localizado entre as províncias de Santa Cruz e Itaguaí (pertinho... de Fernando de Noronha), um povoado chamado Nova Lapônia. Esse outrora simpático e pitoresco lugarejo, um belo (???) dia tornou-se alvo de duas terríveis facções milicianas que passaram a disputar palmo a palmo o controle das “nights” locais: o Comando Sertanejo Universitário + Eletrônico (com combo de Smirnoff Ice + Red Bull) contra a Falange Pagofunk + Hip Hop (com cerveja a R$0,99 a noite inteira).

No meio do fogo cruzado, um bondoso velhinho chamado Noel, que era responsável pela resistência cultural local, promovendo festas supimpas com boa música na sua birosca de beira de estrada, logo passou a ser perseguido por ambos os grupos de meliantes. Noel, cansado de ser esculachado e pagar o “arrego” pros bandidos, resolveu fechar seu estabelecimento e caiu em profunda depressão, tornando-se um sujeito amargo, avarento e entregando-se ao vicio das drogas, enchendo a cara de Luan Santana e Jeito Moleque.

Compadecidos com a situação do seu ex-chefe, os Duendes garçons e Rudolf (a Rena do Nariz Vermelho), a gerente do boteco do Noel, resolveram procurar ajuda: alguém que pudesse tirar o pobre ancião da inércia e fazê-lo voltar ao batente (mesmo tendo passado dos 65 anos), trazendo uma pontinha (no sentido licito da palavra, é claro) de esperança para a juventude pensante e dançante da Nova Lapônia.

E agora, quem poderá nos defender?

Modinha! A festa, orgulhosamente apresenta: Um Conto de Natal.

Imbuídos do espírito (natalino) de ajudar Noel e salvar o Natal de novalaponenses e cariocas, nossos bravos heróis embarcam numa odisséia épica de dimensões sem precedentes na história do entretenimento noturno do Rio de Janeiro e promovem a maior festa de Natal da Cidade (depois do especial do Roberto Carlos e da Missa do Galo, obviamente)!!!

DATA:

Sábado, dia 25 de dezembro, a partir das 22h!
Antes que alguém venha encher o saco com esse papo de “Ah! Mas é Natal... blá, blá, blá”, me responda: O QUE DIABOS VOCÊ FAZ NO DIA 25 DE DEZEMBRO A NOITE??? JANTA COM SUA FAMÍLIA FAZENDO O “ENTERRO DO ENTERRO DOS OSSOS” DO ALMOÇO (QUE JÁ ERA A SOBRA DA CEIA)??? ASSITE AO ESPECIAL DO ROBERTO CARLOS??? JOGA WII COM SEUS PRIMOS DE VILA VALQUEIRE QUE VIERAM PASSAR O NATAL NA SUA CASA E APROVEITARAM PRA FICAR ATÉ DOMINGO (MAIS UM MOTIVO PRA VOCÊ NÃO ESTAR EM CASA)???
Ah bem... imaginei.

LOCAL:

O mais novo e aclamado local para shows, festas e eventos do Rio de Janeiro: Espaço Acústica, na esquina da Praça Tiradentes com Rua da Carioca, próximo ao Cine Ideal (pra quem é de Cine Ideal), ao Cine Iris (pra quem é de Cine Iris), ao CCC (pra quem é de CCC) e dos Teatros Carlos Gomes e João Caetano (... hum... não é nosso público alvo). No coração do Rio, entre a Lapa e o Centro. Um espaço incrível, com três andares, som e luz de última geração, banheiros e caixas (para pagamento em dinheiro e com TODOS OS CARTÕES DE CRÉDITO) em todos os andares e o sensacional terraço com uma linda vista panorâmica do Centro do Rio, pra assistir se acabando de dançar, ao sol nascer redondo!
LOTAÇÃO: 1000 PESSOAS.

DJs:

Dessa vez, pra salvar o Natal do Noel, a Modinha recrutou os “Três DJs Magos” e abriu duas pistas pro som rolar até o amanhecer:

- DJ J.R. e o espírito do Natal Passado (Pista Terraço) – miscelânea musical + rockzinho do bom + lados bs que só ele acha que todo mundo conhece + 60, 70, 80 e 90.
- DJ Chu e o espírito do Natal Presente (Pista Principal) – miscelânea musical + brasilidades pra remexer o traseiro + bonsfanfasradiohits bem mixados + 00 e 10.
- DJ Sandrinho Black e o espírito do Natal Futuro (Revezando nas pick ups das duas pistas) – miscelânea musical + Black (afinal, um pretinho básico não só não sai de moda, como sempre será tendência).



ATRAÇÃO ESPECIAL:

Mas não é só! Pra afastar de vez o mal olhado, as saias de cintura alta com chapéu de cowboy, as camisas regata e braços cheios de esteróides com gel no cabelo, o Jorge & Matheus e o Sorriso Maroto, os “Três DJs Magos” recebem o auxílio luxuoso e poderoso do bloco mais irreverente e rock n´roll do Carnaval carioca: BLOCO CRU, num show imperdível, tocando no palco principal do Espaço Acústica os grandes clássicos do rock em versões “momescas”, pra geral bater cabeça e mexer o bumbum!

DJ/Ator CONVIDADO:

Se tudo der certo, nossos heróis cumprirem sua missão e a profecia se concretizar, Noel, o bom velhinho voltará a ser... o bom e velho velhinho!!!  E assumirá as carrapetas como DJ/Ator CONVIDADO, provando que a Nova Lapônia, assim como o Complexo do Alemão e a Vila do Cruzeiro, estará livre das forças do mal e de toda musica ruim!
Quer saber como termina essa história? Então não perca a edição natalina da Modinha, sábado, 25 de dezembro no Espaço Acústica.
Nos vemos por lá!

SERVIÇO (pra quem, obviamente, parou de ler na terceira linha dessa baboseira toda):

Data: sábado, 25 de dezembro
Horário: 22h
Local: Espaço Acústica (Praça Tiradentes, números 2 e 4 – Centro) / telefone : 21 2232-1299
http://www.espacoacustica.com.br/site/
Ingressos:
R$25,00 – lista amiga até 01h (emails até dia 25/12, 20h para lista.amiga@modinhafesta.com.br)
R$30,00 – na hora do evento
Informações: http://amodinhafesta.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O compositor



Há exatos cinco anos, na madrugada do dia 13 de dezembro de 2005, o jovem e talentoso músico Liô Mariz, cantor e compositor da banda Som da Rua, falecia num trágico e fatal acidente de carro no cruzamento das ruas Joana Angélica e Visconde de Pirajá, Ipanema (Zona Sul do Rio de Janeiro).

Hoje, cinco anos após a morte de Liô, abro mão da condição de amigo (ele era um dos meus melhores amigos em quase 11 anos de convivência), sócio (fundamos juntos o Som da Rua) e testemunha ocular da tragédia (eu estava sentado no banco do carona do carro no momento da batida) para como fã e amante da boa música render uma homenagem um pouco diferente ao COMPOSITOR carioca Leonardo Mariz de Oliveira Rezende fazendo aos amigos e leitores desse blog um apelo: NÃO DEIXEMOS QUE O LEGADO ARTÍSTICO/MUSICAL DE LIÔ MARIZ SE PERCA. NÃO DEIXEMOS QUE CAIA NO ESQUECIMENTO ESSA OBRA (QUANTITATIVAMENTE PEQUENA, PORÉM DE QUALIDADE INFINITA) DE POUCAS, MAS EXCELENTES CANÇÕES, CONSTRUIDAS AO LONGO DE APENAS SETE ANOS DE CARREIRA, VIREM APENAS MEGABYTES DEIXADOS DE LADO EM ALGUMA PÁGINA DA GRANDE REDE MUNIDAL DE COMPOSITORES.

Aclamado por diversos músicos consagrados (o mais significativo selo de qualidade das composições de Liô foi ter no seu hall de fãs confessos, o seu maior ídolo nacional: Lulu Santos, que um pouco após a morte do garoto, dedicou inteiramente a ele, num show no Canecão, toda a turnê do disco Pop Star) e influenciando desde músicos contemporâneos a ele a jovens que viriam a conhecer seu trabalho após sua morte, Liô tinha uma característica rara nos dias de hoje: era um compositor completo. Quando digo “completo”, me refiro ao fato de ele ter sido, além de um excelente melodista (tendo também um bom domínio dos caminhos harmônicos da canção pop), um letrista (apesar de ter apenas 23 anos quando faleceu, e de ter composto suas principais canções entre os 19 e os 23) excepcional, de rara identidade e poética, com cuidados técnicos como já não se vê hoje na música pop, além de uma maturidade impressionante pra alguém tão novo.

Obviamente não foi sempre assim. Se examinarmos a obra de Liô Mariz com cuidado e critério, vamos descobrir e entender que quando o Som da Rua iniciou seus trabalhos, em 1998, Liô era um compositor mediano. Mas, pelas suas idéias e pouquíssima idade, eu já identificava nele um potencial absurdo. Nessa época, ouvíamos o que tocava nas rádios, e queríamos apenas montar uma banda com o objetivo de, justamente um dia, ter uma música nossa tocada numa rádio! As influências eram Skank, Jota Quest, Paralamas, e um pouco depois, O Rappa. Queríamos fazer uma mistura de musica pop internacional (reggae, rock, Black music) com ritmos, levadas e influência da música brasileira (daí o nome Som da Rua, que depois acabou ficando um tanto quanto inadequado). Dessa época, temos composições bem juvenis, que não tiveram registro em CD como “Não dá”, “Quando a noite chegar” e “Pode ser”.

O disco de estréia da banda Maskavo Roots pelo selo dos Titãs (Banguela Music), comprado por mim na Gramophone do Centro pela bagatela de R$3,99 e emprestado (ad eternum) pro Bolota, foi um dos grande responsáveis pela mudança de fase. A banda candanga (que posteriormente excluiu o Roots do nome e virou apenas uma banda de pop reggae), fazia uma mistura muito boa do reggae com rock n´ roll e influenciou diretamente as composições de “A Ladeira”, “A Nova” e “Perto do Mar”. Lenny Kravits e sua junção incrível de funk, soul e (como sempre) rock n´roll também estavam cada vez mais freqüentes no cd player do rapaz completava então a maioridade.

Numa tarde de algum fim de semana de 2000 cheguei a sua casa na Travessa Visconde de Moraes em Botafogo (onde passávamos todas as tardes de sábado e domingo enfurnados no quartinho de trás, tocando nossas canções na altura máxima) com o disco Maquinarama do Skank (autografado pelo próprio Samuel Rosa) em mãos. Imediatamente fui mostrar para o meu amigo o quanto aquela banda que curtíamos pelo som pop que fundia reggae e dancehall com ritmos nacionais havia amadurecido e ganho o veneno do rock (e até um certo psicodelismo) com aquela emblemática (pra eles e pra nós) bolachinha. A partir daí surgiu “Te dar mais uma chance”, a primeira música de Liô e do Som da Rua com uma levada e pegada nos moldes clássicos do rock.
Depois de uma demo (99) e um disco independente (2002) bastante irregulares artisticamente, sentia que o melhor, que algo realmente grande, ainda estaria por vir. Liô mergulhava cada vez mais e mais fundo num trabalho de pesquisa e estudo da obra dos Beatles. Ouvia cada vez mais rock contemporâneo (Foo Fighters, Queens of The Stone Age, Oasis, etc) e rocks clássicos (Led Zeppelin, The Who) e entendia o mecanismo de composição dos FAB four e dos que se influenciaram diretamente pelo quarteto de Liverpool. Liô amadurecia internamente como compositor e como pessoa, e estava prestes a explodir.

Clower Curtis, assumiu as guitarras da banda após a saída do Marcelo, irmão de Liô e um dos meus melhores amigos desde a época de colégio. Era o ano de 2002 e tínhamos uma temporada de shows no Hard Rock Café em andamento. Clower era experiente (vinha da badalada banda O Berro) como músico e produtor, além de um cara gente fino ao extremo. Nossos problemas estavam resolvidos! Mas Clower simplesmente não quis ficar na banda por que considerava não só as músicas bobas, como tinha certeza absoluta que podíamos fazer algo bem melhor. Aquilo nos abalou demais. Principalmente ao Liô. E nos instigou a vir com algo diferente. Tempos depois, Clower seria o produtor da Demo 2003, o disco que marcou a melhor fase da carreira da banda.

Numa viagem para i sitio de Liô, algumas semanas após a saída de Clower e da já incorporação de Diogo Salles (amigo de longas datas que já havia sido nosso roadie, e que estudava guitarra justamente com Marcelo) à banda, o “moleque” mostrou, numa noite, após algumas cervejas, pela primeira vez pra gente “Só uma canção” e “Ninguém aqui”. Os instrumentos estavam lá com a gente e lembro-me de, na mesma hora, todos nós nos empolgarmos à ponte de ir imediatamente tocar as novas canções até que um esboço das mesmas fossem concluídos. 
A partir daí vieram “Tudo em seu lugar”, “O Avesso”, “Tão Suspeitos” (inicialmente composta pra ser mostrada pro amigo Toni Platão, mas que malandramente convenci Liô de que ele poderia mostrar, contanto que nós gravássemos ela antes), e um sem números de músicas que não chegamos a gravar. Liô havia se tornado uma máquina de compor. Ele compunha todos os dias. Uma ou mais musicas por dia. Lembro com carinho especial de “Boas Novas” (a música que ele me deu de presente de aniversário) onde mostrou todo seu poder de observação e sintetizou em poucos versos, suas observações acerca de quase 10 anos de amizade:
Não se prende por ninguém
E não assume a condição
É mais forte do que quem
Diz saber o certo em vão
Carinho especial também não falta a outras duas composições do disco “Musicas para violão e guitarra” (2005), que marcou nossa estréia dentro de uma grande gravadora (Deck Disc).
Uma delas é “Quando Tudo Acaba”, a última música a entrar no disco e que se tornou não só uma das preferidas dos fãs da banda, mas uma unanimidade entre os cinco integrantes do Som da Rua.  Versos como os de abertura da primeira (Faço juras de amor pra quem vem / E vendo meus sonhos pra quem quiser / Dias como os meus) e segunda partes da letra (Escrevo cartas de amor pra ninguém / Em formas estranhas de se contar /Sobre o meu lugar) trazem uma gostosa e suave melancolia e produzem imagens instantâneas na nossa mente, efeitos que só as grandes composições dos grandes mestres e arquitetos da canção conseguem.
A outra é “Tanto Faz”, a única parceira minha e dele do disco de 2005. Parceria no papel! Por que na verdade, Liô me deu a música pronta! Eu apenas coloquei meia dúzia de palavra, mudei alguns tempos verbais, enfim... dei uma corrigida de leve pra que a música, que já era excelente, ficasse mais fechadinha. E só mesmo. Liô não gostava da música por que a gente não conseguia fazer um arranjo a altura e queria inclusive que a música não entrasse no disco.
Mas batemos o pé!!! A música era uma das preferidas da banda. A história era boa: um casal que passa por constantes momentos turbulentos, onde uma das partes é totalmente subjugada à outra. Apesar de toda aquela paranóia, eles não conseguem se separar e preferem viver num inferno. O jeito é a parte servil, após um grito de libertação no refrão (Não vou mais, me prender ao que ao foi capaz / De encontrar / E agora pra mim tanto faz / Se ainda estás aqui), soltar as amarras e passar a ser a parte dominante, invertendo toda a imposição ao outro lado do relacionamento. A segunda parte da música é exatamente igual à primeira, só mudando algumas poucas palavras pra deflagrar que agora é o outro quem esta no poder.
Considero essa, tecnicamente, uma composição perfeita. Muito madura e inteligente, ainda mais pra um rapaz de apenas 23 anos.

Mas Liô Mariz era assim: maduro e inteligente. E é um ledo engano achar que ele tinha apenas 23 anos. Ele tinha 467. Esperto como só, o sábio ancião apenas se vestia desse invólucro carnal jovem para nos ludibriar e, de certa forma, ser aceito por seus amigos e pela sociedade a sua volta. Mas Liô não era daqui. E aqui não poderia permanecer.

Hoje, quando a saudade aperta, dou graças aos céus por ter essa obra a minha disposição, e coloco qualquer disquinho do Som da Rua na minha vitrolinha virtual. É como se ele estivesse aqui, do meu lado. E mentalmente, posso junto dele fazer o que mais gostava: bater um bom, delicioso e despretensioso papo, como se estivéssemos na varanda da casa 256 da Travessa Visconde de Moraes, numa tarde de verão na década passada.

Alguns artistas em atividade descobriram o trabalho de composição do Liô e tem regravado sua obra, como Lia Sabugosa (Olhe no Céu, canção que não chegou a ter um registro oficial do SDR, mas que gravamos numa sessão de ensaios), Voltz, boa e pesada banda de rock de São José dos Campos (Quando tudo acaba) e o amigo Daniel Massa no seu novo trabalho (o mesmo quando Tudo Acaba). Que eu saiba, é só. Imagino que diversos outros novos e já consagrados artistas poderiam fazer misérias com uma canção do potencial das de Liô Marix.

De Marcelo Camelo cantando (com os Hermanos) “Ninguém Aqui”, passando por Jota Quest interpretando qualquer uma do disco do Orelhudo, Frejat emprestando sua voz poderosa a “Te dar mais uma chance”, até Cheiro de Amor ou Jamil cantando “Perto do Mar” e Rick Vallen “sofrendo” ao entoar só no piano e voz “O que se chama”, um mundo de possibilidades estaria aberto para a música pop e popular brasileira poder usar e abusar dessas pérolas (quase) escondidas.

Enquanto o dia do despertar não chega, como fã (talvez um dos mais ardorosos) do trabalho desse incrível e primoroso compositor, e da boa música em geral, peço a vocês que ouçam com atenção e carinho os links abaixo. Que prestem atenção nas letras. Que entendam os caminhos que foram percorridos até chegar ao resultado final. Ouçam essas canções como verdadeiramente deveríamos ainda hoje (mesmo apesar de toda massificação e produção em série da arte) ouvirmos. Com calma, com coração. Ouçam com o coração. E se possível, repassem essas belas canções a quem vocês amam. Certamente pra todas elas, essas músicas vão fazer algum sentido. Assim, Liô Mariz estará sempre, e para todo sempre, vivo. Produzindo, compondo, cantando e alegrando a todos, que era o que ele magistralmente sabia, como ninguém, fazer.

LINKS:





http://www.fotolog.com.br/SOMDARUA

P.S.: Bolota, manda um beijo pro meu pai, minha irmã e pro Netto! Bjunda.
Ouvindo: Som da Rua (2002 – o orelhudo)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Herói


Guerra é guerra.

Não existem meias palavras, meias intenções, meias entregas.
Não existem meias vontades, tampouco meias motivações numa guerra.
Não podem existir dúvidas e, jamais, nunca, em hipótese alguma, pode existir medo.

Guerra é guerra.

Não se entra “mais ou menos” em uma guerra.
Guerra é extrair forças de onde o ser humano jamais pudesse imaginar que pudesse existir força.
Guerra é coração, emoção e raciocínio interligados com precisão matemática.
Guerra é manter-se motivado, animado, de cabeça em riste, mesmo que uma batalha seja perdida.
Porque perder uma batalha, para um verdadeiro guerreiro, jamais significará perder a guerra.
Guerra é limite. É ir até o limite, e se necessário, ultrapassá-lo.
É ir do fundo ao topo.

Apenas nessas extraordinárias, singulares situações limite, um homem, até então normal, pode tornar-se um verdadeiro guerreiro. E um guerreiro, eternizar-se como um verdadeiro herói.
A última batalha foi vencida.
A guerra foi vencida. Com honra, dignidade e louvor.

Hoje, todos os corações do mundo, batem em verde, branco e grená.

Os guerreiros tricolores, definitivamente, tornaram-se HERÓIS.


Ouvindo: Hino do Fluminense

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A fila

Que as filas são cenários perfeitos para situações inusitadas e cômicas, beirando a desgraça e o desespero, ninguém tem a menor dúvida.
Porém, na manhã e tarde do último dia primeiro de dezembro, minha estadia na fila para comprar ingressos do jogo final do campeonato brasileiro de futebol de 2010, entre Fluminense e Guarani, extrapolou todos os limites do cômico, tornando-se, se não trágico, pelo menos desgraçado e desesperador.
Pela primeira vez na história, em virtude do fechamento prematuro (completamente filhodaputa, escroto, babaca, feio, bobo e mau #prontofalei) do Maracanã por causa das obras para a Copa do Mundo de 2014, todos os jogos até 2012 de médio e grande porte no Rio de Janeiro serão disputados no (simpático) Estádio Olímpico João Avelange, o famigerado Engenhão. Não fosse o fato de lá caber menos da metade da capacidade de público do Maracanã, o acesso ruim e a localização (não do bairro, antes que a galera da zona norte queira minha carne pro “surrasquim” de domingo, mas do entorno do estádio, sem nenhuma área de escape e fuga no caso de uma briga entre torcidas, por exemplo) pior ainda, não seriam problemas tão significativos.
Pois bem. Ao ver dois dias antes do inicio das vendas dos ingressos, pessoas acampando na fila na porta da bilheteria do estádio do Flu, na Rua Pinheiro Machado, pensei: FODEO.
E FODEO mesmo.
Já estava praticamente demovido da idéia (infame) de encarar a fila (tarefa que no fim das contas, tinha 85,7% de certeza que seria inglória). Pensei em dar um pulo na bilheteria às 9h da manhã (horário em que abriria pra venda de ingressos) e se tivesse uma fila gigantesca, voltaria tranquilamente pra casa e teria perdido 20 minutos do meu dia.
Já imaginava em que bar repleto de gatinhas, agito, cerveja gelada, sambinha, ar condicionado, pegação desenfreada, cheiro de hidratante Victória Secrets de baunilha e pagamento da conta no cartão de crédito, eu iria assistir ao Flu sagrar-se campeão nacional de futebol no ano de 2010. BG? Salvação? Algum “Garota” da vida? Veloso (ok... ai já é demais! Nem sei se passa jogo no boteco mais querido da playboyzada do Leblon)? Plebeu? Fosse onde fosse, minha diversão limpa e higiênica, somada à emoção pela vitória e conquista do campeonato já me garantiriam o melhor domingo dos últimos 26 anos. Afinal, quem precisa ir ao estádio lotado, quente, com gente (mesmo sendo tricolores, uma outra espécie, um outro nível de torcida) suada e odores questionáveis? Visão ruim do campo! Confusão. Tumultuo. Policia sempre atrapalhando mais que ajudando. Não! Aquilo não era pra mim.
E não era mesmo.
Oito da manhã de quarta feira chego às Laranjeiras para render Maria Carolina Benevides, que por obra do destino, encontrei às 23h do dia anterior, sentada com sua fiel escudeira Aline Salcedo no Boteco Badalado, na esquina da minha rua no Catete, e depois de 15 cervejas me convenceu a revezar com ela na “fila do desespero”. Fui dormir 3h da manhã, cheio do “alpiste” na mente e com a certeza de que tinha entrado na maior roubada dos últimos tempos.
Carol chegou às 3h na fila, que já alcançava a Rua das Laranjeiras, via Soares Cabral (veja no Google maps o drama da família tricolor). Dormiu, acordou, sentou na cadeira de praia de um rapaz que teve que ir embora pra fazer prova no colégio, fez amigos, cultivou olheiras, assistiu ao dia nascer, quase foi filmada pelas lentes da rede Record enquanto cochilava... e finalmente,  oito da manhã foi rendida por mim. As recomendações pareciam simples:
- Toma o dinheiro do ingresso. Cada pessoa só pode comprar dois. Coloquei meu nome e o seu numa lista que será lida mais na frente quando começar a afunilar e só passa pro outro lado da fila quem tiver o nome na lista. Nosso numero é o 1447. Fica ligado nessa chamada e nesse número. Não vai ficar olhando pra mulherzinha que tá passando do outro lado da rua e perder a chamada! Entendeu?
- Sim, comandante!
- Ah! Eu usei a cadeira de um menino que saiu pra fazer prova o colégio! Quando ele chegar devolve a cadeira de praia pra ele. Vou pra casa, dormir duas horas, tomar um banho e ir pro trabalho. Boa sorte!
- Pra nós!
Pensei: “1447 vezes dois ingressos por pessoa, igual a 2894 ingressos. Mais uns 500 furões, vezes dois, igual a 3894... 4000 vá lá! Tá safo!!! Somos gênios da logística e estratégia na compra de ingressos em finais de campeonato, não somos???”.
Não somos mesmo.
A lista, assim como as cordinhas frágeis que tentavam organizar as filas, e os próprios organizadores das filas, eram bem falhas. E arquitetadas por torcedores que estavam ali há dois dias, cansados, exaustos, mas com uma boa intenção ímpar e louvável. Mas, como vocês sabem, de boas intenções o inferno está pavimentado. E não deu outra! Pela total falta de suporte do clube, de organização dos órgãos (in)competentes e envolvidos oficiais que deveriam ter a obrigação de estabelecer a ordem naquela fila e em toda a ação da venda de ingressos, aos poucos, as Laranjeiras foram se tornando um barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento.
Às 9h, quando as (apenas três, das cinco existentes) bilheterias abriram-se, as pessoas tentavam espantar o cansaço brincando, conversando, tocado violão (um maluco beleza chamado Edu com um Giannini caindo aos pedaços e completamente desafinando cantou toda discografia de Raul e Legião. Quando eu cheguei,ele começava a de Barão e Cazuza), cantando. Muitas vieram de longe, muito longe e estavam ali há 8, 10, 12 horas, esperando a abertura da bilheteria! Garantia de ingresso não havia. Mas pela lógica, o fato de serem o numero até 1000, 2000 (eram os números dos bravos que haviam pernoitado na fila) da lista “organizada” pelos torcedores de bom coração, lhes garantiam, ao menos, uma esperança grande de ter o cobiçado e sonhado passaporte pra felicidade suprema no olimpo futebolístico no domingo dia 05/12/2010.

A primeira frase ouvida no meu “turno filístico” foi proferida por um sujeito simpático, gordinho e muito bem humorado, com camisa regata listrada e ar bem malandro:
- Norte, “Sú, Lerte, Oerte”... pra mim o que cair tá valendo! Eu quero é tá “drento” da festa, meu camarada!!!
Naquele momento, senti-me aconchegado. Senti que ali seriam formadas boas amizades.
E seriam mesmo.
De certa forma, um orgulho (por ser tricolor) e um carinho (sabe-se lá vindo de onde), foram surgindo entre os torcedores e figuras interessantíssimas foram aparecendo. Além do “maluco beleza”, faziam parte da sua trupe uma menina, produtora, chamada, se não me engano, Clara, que apesar de morar na rua do clube, ficou ali, na fila, por toda a noite. Um casal com um namorado paulista e são paulino que acompanhava sua namorada. Um coroa de Niterói que já havia sofrido uns três enfartes, acompanhado por seus dois filhos. O rapaz dono da cadeira de praia. Dois senhores aposentados que se diziam “fiscais da natureza”. Um timaço de figuraças. Todos se ajudando, se apoiando, se organizando. Tudo, absolutamente tudo que a VERGONHOSA DIREÇÃO DO CLUBE NÃO FEZ. Nessa hora eu penso: formar um time com estrelas, competitivo, vencedor, é, de certa forma, respeitar o torcedor que compra ingresso e mantém o clube (junto com o patrocinador, logicamente), não é? Porque diabos então, na hora derradeira, onde o respeito e o zelo pelo torcedor (o maior patrimônio do clube) deve realmente existir, isso não acontece?
E não aconteceu mesmo.
Do meio em diante (por volta de meio dia) da fila, os boatos de que os ingressos mais baratos (nota: nas partidas anteriores os ingressos variavam de R$20,00 a R$40,00. Dessa vez, iam de R$60,00 a R$150,00) haviam se esgotado foram se intensificando. Ninguém da organização dava um parecer correto. Começamos a nos revezar para ir ao inicio da fila e tentar entender o que estava acontecendo. Quem ia, voltava assustado. Atônito. Sem conseguir sequer iludir um pouco os companheiros para que não rolasse um colapso coletivo. Nos 100 primeiros metros da fila, um amontoado de pessoas sem nenhuma organização se digladiava pra chegar ao curral final da bilheteria. Pessoas furavam fila sem a menor cerimônia. Policiais militares, aos montes, assistiam a tudo como se não fosse com eles. Não havia seguranças do clube nem naquela área mais tensa. Ou seja: caos total!
O que era boato se confirmou: os ingressos de R$60,00 e R$80,00 se esgotaram e com isso, muitas pessoas que estavam há 8, 10, 12 horas na fila, foram obrigadas a desistir e ir embora por que simplesmente não tinham dinheiro pra comprar os ingressos mais caros. Meu coração tricolor partiu-se em mil pedaços ao ver o simpático coroa de nikiti e seus dois filhos irem embora, tristes, cabisbaixos. Bem como os senhores “fiscais da natureza”, a amiga produtora, o maluco beleza... quase toda a trupe. De toda forma, mesmo revoltados, decepcionados e tristes, todos, sem exceção, partiram com dignidade e civilidade. Sem confusão. Sem briga ou gritaria, provando que eram muito mais nobres que a aristocracia podre escondida atrás dos vitrais importados da sede do clube.
E eram mesmo.
A fila diminui drasticamente e podemos chegar próximo ao tumulto (e embate) final. Após ficar mais uma hora parado no mesmo lugar e de ver o bololô aumentar em progressão geométrica, fui tomado pelo espírito de William Wallace, perdi completamente a compostura e iniciei uma revolução, levando uma boa galera de “mulão” até o front. Chegamos, nos esprememos e ali ficamos. Quase duas horas parados, há mais ou menos uns 30 metros do destino final, sem poder se mexer, respirando miseravelmente e sentindo uma catinga sem precedentes. Tudo que eu ainda conseguia resmungar era “vocês tem sorte (apontando pra bilheteria)!!! Se fosse o Flamengo na final, tava todo mundo queimado aqui! Eles iam “passar” geral!!! Quebrar tudo!!! Seus cagões de merda!!!”. E coisas do tipo.
Por volta das 16h (uma antes do horário previsto para o fechamento da bilheteria) e com uma multidão enorme ainda na fila, a espera de um milagre, a guarda municipal resolver se mexer e tentar organizar; algo que deveria ter sido feito há pelo menos umas 8 horas.
Depois de mais uma hora e quarenta e cinco minutos de espera na mesma posição, depois de ficar imprensado entre um negão na frente e um gorducho (ambos bem simpáticos, ao menos) atrás (se eu tivesse alguma mínima tendência homossexual, acredito que ela teria se manifestado naquele momento. Juro!), depois de suar como um porco indo pro abate, deixei meus (literalmente) suados R$150,00 nas mãos de uma simpaticíssima e competentíssima, além de muito ágil e com enorme boa vontade (#ironiaMode:on) atendente (detalhe: ela estava sentada e com um ar condicionado ligado que sentia-se do lado de fora da cabine) e sai com meu troféu nas mãos: um ingresso pro setor oeste inferior.
A bilheteria não fechou às 17h, e os ingressos mais caros continuaram a ser vendidos ate o fim do dia, como uma espécie de mea culpa da (des)organização.
Vergonha, revolta, tristeza. Sendo ou não campeões no próximo domingo, nós, torcedores do Fluminense (ou os torcedores de algum outro clube que pudesse estar na mesma situação), não merecíamos passar por uma situação ultrajante como essas, totalmente contrária à campanha vencedora e honrada que o time demonstrou ao longo de todo o campeonato, dentro de campo.
Não merecíamos mesmo.
QUE FIQUE CLARO: A REVOLTA NÃO E POR CONTA DOS (APENAS) 31MIL INGRESSOS POSTOS A VENDA. ISSO NÓS SABIAMOS QUE SERIA COMPLICADO MESMO. MAS SIM, COM A DESORGANIZAÇÃO TOTAL E TOTAL FALTA DE RESPEITO AO TORCEDOR, QUE DEVERIA SER, O VERDADEIRO DONO DESSA FESTA.
Sorte pra nós. Todos.
Ouvindo: Sheryl Crow (Best of)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tiros, comédias e pensamentos femininos.

O avião da companhia TAM pousa às 18:07h de quinta-feira, dia 25 de novembro de 2010, exato um mês antes do Natal e um dia após o aniversário do meu saudoso pai.
No meu tocador de mp3 ouço a seqüência de Ave Maria da Rua e Canto para Minha Morte de Raul Seixas enquanto leio a ultima frase do livro de Nelson Motta sobre a vida, obra e causos de Tim Maia, dizendo que “No domingo, 15 de março de 1998, às 13:03h, o coração do gordinho mais simpático da Tijuca parou de bater.”

Não sei, de verdade, o que esperar ao desembarcar no aeroporto Santos Dumont. Não tenho idéia, depois de quatro dias na capital paulista, do que me espera na cidade onde nasci e cresci, e que nos últimos dias, acompanhei pelos noticiários, contato com amigos e notícias paralelas do “feeeeeice”, o caos instaurado com a ação do crime (dês)organizado, sem precedentes na história da vida civil carioca.

De concreto, neste momento (ontem à tarde), uma espera de 20 minutos por um taxi que se propusesse a me levar até minha casa, no Catete, zona sul do Rio, a 10 minutos do aeroporto. Três taxistas se recusaram em fazer a corrida, por conta de uma blitz na Pedro Américo, minha rua.

 

Além disso, o cancelamento de uma reunião de trabalho, por receio da equipe em perambular pelas ruas do Rio após o anoitecer. Tal e qual num “filme b” de terror, com zumbis e monstros sanguinários e incendiários a procura de sangue fresco e chamas de destruição.

 

Fico imaginando Rodrigo Miranda e Sebastião Maia, respectivamente meu pai e Tim Maia, cariocas da gema de épocas em que o Rio era um Rio tão diferente, vendo (espero que de cima) tudo isso. Cariocas de épocas em que o Rio era tão lúdico e lindo. Tão Rio! O Rio de longe, que vemos ao chegar à cidade pelos céus, quando inevitavelmente nos vem à cabeça o “Samba do Avião” de Tom.


Como chegamos nesse ponto? De quem é a culpa? O que fazer a partir de agora?

Seja como for (ou seja, claro que não tenho as respostas acima), “teorias” esdrúxulas e “protestos” grosseiros e sem nenhum embasamento pipocam na nossa mesinha de bar virtual (o feeeeeice) e começam e me preocupar tanto quanto a própria ação da bandidagem.
Sim! Me preocupam! Porque desde os embates políticos da última eleição presidencial, tenho olhado ressabiado, com certa desconfiança essa tal liberdade adquirida através das mídias sociais virtuais que colocam lado a lado e em total condição de igualdade (pelo menos em termos de divulgação de suas idéias), um professor de sociologia e um idiota qualquer que acha que sabe do que está falando (como eu).

Comentários reacionários, taxativos, e passionais onde questões profundas da sociedade são vomitados de forma simplória e minimalista, e abarrotam nossos murais na internet gerando polêmicas (muitas desnecessárias), brigas, discussões, raiva, ódio. Apenas por serem idéias divergentes. Tudo que não precisamos num momento desses. Um racha absurdo que em nada ajuda a sociedade e em nada resolve a situação.

Da manjada revolta colocando a culpa nos maconheiros, passando por “isso é coisa da Rede Globo” (ainda bem que não colocaram a Nike no meio. Já basta a Copa de 98) para minimizar uma situação grave e real, até o racha entre zona norte e zona sul, como se não fizéssemos, todos, parte da mesma cidade, apoio a chacina de bandidos e controle arbitrário de natalidade. Tudo vomitado. Tudo dito sem pensar. Seja pelo (completamente compreensível) estado de nervos em que a população se encontra (eu mesmo, ontem a noite, após um tiroteio de quase uma hora na porta da minha casa me utilizei da mais venenosa ironia pra “protestar” no meu mural do Facebook de forma completamente atabalhoada), seja por ignorância. E não é a ignorância da impossibilidade de acesso a informação. Mas a ignorância de optar por não ter acesso a essa informação, hoje um mal que assola grade parte dos jovens de classe média. Seja como for, não é hora disso.

A hora é de assumir a própria culpa. Os próprios erros. Olhar pro próprio rabo e não pro próprio umbigo. Pensar o que cada um de nós está fazendo de errado e como mudar isso.
Seja quem fuma um baseado ou consome uma carreira. Seja quem suborna um policial por que está sem documentos ou está dirigindo bêbado. Seja quem sonega um imposto. Quem votou de forma inconsciente e inconseqüente na ultima eleição. Seja quem não está dando a devida atenção na educação de seus pequenos filhos que futuramente serão os cidadãos que decidirão o seu e o nosso futuro. E fica a questão: será que toda vez que eu olhei com indiferença, desprezo, nojo, sem igualdade de condições, para alguém menos favorecido financeiramente, para alguém com dificuldades e realidade diferente da minha, de certa forma eu também não estava ajudando a alimentar o tráfico de drogas??? Ajudando a formar um sentimento de “querer se afirmar”, de “querer o que é do outro”, de revolta e revanche (legitimas) por parte desses jovens? Por que só quem pode ter sentimentos e quereres é a classe média? A classe média tem analista, remédio, dinheiro pra “ter”. E o sujeito pobre e fodido que tem também o direito de “querer”? Não tem o direito de roubar, mas tem o dever de enfiar esse “querer” no cu e nos entubar olhando pra ele com indiferença, desconfiança e superioridade. No máximo, com pena. Ah! Faça me o favor!

Não minimizemos essas questões. Todas são enormes e importantes.

Apenas citando um exemplo de como o buraco é bem mais embaixo, ontem entre diversas cenas chocantes na TV, me chamou a atenção uma cena já antiga e bem batida, mas que ontem percebi de outra forma: os dois momentos de Elias Maluco. O primeiro quando é preso pela polícia, no morro. Acuado, assustado, espancado, atordoado. E o segundo, quando o traficante aparece entrando num tribunal, tempos depois, pra ser julgado. Frio, tranqüilo, com um ar de quase deboche, dando a total certeza ao cidadão que acompanha aquilo que ele, mesmo preso, está por cima da carne seca. Continua dando as cartas e que aquilo é um grande teatrinho. Isso não é uma cena de complexidade máxima?  Uma cena que deflagra a total fragilidade do nosso sistema de leis, de comando. De como estão completamente confusos e trocados os papéis de coordenação da sociedade?

O medo está dominando e aparentemente vencendo. Mas não podemos deixar que o pânico e o caos se instaurem nas nossas vidas. A hora é de acreditar e confiar nos órgãos públicos (que por total falta de opção, estão sendo obrigados a agir e reagir a tudo isso, ao contrário do que foi feito ao longo de décadas) e manter a calma, a cabeça fria. Agir com estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie... como diria Nascimento, nosso primeiro super herói nacional no novo milênio. Arregaçar as mangas e mudar. Lutar por leis coerentes e que não privilegiem essa máfia que ganha milhões à custa da desgraça alheia. Lutar por políticos confiáveis e bem intencionados, por educação para os menos favorecidos e reeducação para os ignorantes da classe média. Esses bandidos, antes de serem traficantes, são criminosos. Eles não estão ali apenas pelo tráfico de drogas. Como fica claro no filme (e livro) Cidade de Deus, o tráfico foi apenas um meio mais fácil e menos ariscado (comparado com outras formas de delitos) que encontraram pra ganhar dinheiro. E antes de serem criminosos, são pessoas que poderiam sim estar desenvolvendo outras atividades se alguma oportunidade lhes fosse oferecida.

Não adianta saber de quem é a culpa se você não está apto a, sequer, reconhecer a sua parte.

É hora de deixarmos um pouco de sermos os donos da verdade. Todo mundo tá querendo ser o dono da verdade nos seus feeeices. Tá na hora de aceitar a verdade e alterá-la. Urgente.

Cariocas do meu Brasil. Uni-vos.

José Padilha falou. José Padilha avisou.

= ) Se de algo serviu essa noite reclusa e preso em minha própria casa, foi para acompanhar a nova a programação de quinta-feira da Rede Globo. Em específico, duas novas mini-séries: “Clandestinos” e “Afinal, o que querem as mulheres?”.

Nota do editor: é uma pena a Rede Globo estar apostando em bons programas numa parte de sua nova programação, voltados para um publico pensante e qualitativamente melhor, e esse público quando perguntado se assistiu a algum desses programas responde “eu não vejo televisão”. Alguma coisa errada está acontecendo com a comunicação e divulgação desses programas pela Vênus Platinada. Meus amigos, dos quais tenho certeza absoluta de que gostariam de “Afinal...”, “Tudo junto e misturado”, “A Cura” entre alguns outros, sequer sabem que esses programas existem. Alô Rede Globo! Abre o olho!!!

Da primeira, havia assistido apenas a alguns trechos nas semanas anteriores. A segunda, vejo religiosamente toda segunda-feira no Youtube.

A primeira, infelizmente ficou no meio do caminho. Mesmo com as grife João Falcão, que admiro e considero, e Guel Arraes nos créditos, o programa não emplaca. Ele deixa apenas uma leve impressão de que a peça que deu origem ao programa pode ser interessante.
O ritmo de narração se propõe a ser dinâmico, mas não consegue. Algumas atuações são interessantes. Outras, como a de um dos fios condutores da história, o diretor teatral Fábio (interpretado por Fábio Enriquez Bastos) é rasa e estereotipada. Ruim mesmo.
Clandestinos soa como uma espécie de “Malhação do Teatro”. É como se a novelinha vespertina fosse ambientada nas salas da CAL, ao invés dos fictícios colégios onde se passaram as (horrendas) tramas da série.

Mas tudo isso poderia ser contornado, não fosse o maior, na minha opinião, problema de Clandestinos: a série é piegas. E pra isso, não há cura. Piegas é quando algo tentar ser emocionante, sentimental, e erra na mão, tornando-se “vergonha alheia”, pra trocar em miúdos. Quando sobe o BG instrumental cheio de cordas e os olhares ficam mareados na tela, e você ao invés de chorar junto pensa “puta que o pariu! Que merda isso, heim... batiiiiiiiido...” ou algo do tipo.

E isso acontece constantemente em Clandestinos. Talvez por ser “teatral” demais para a TV. Talvez. Os atores se posicionam, falam, articulam e impostam suas vozes e suas expressões de forma teatral demais para um programa de TV. Ao longo dessa vida de bicão televisivo e teatral, eu descobri que sim (muito devo ao meu último relacionamento de anos com uma excelente atriz), existe uma diferença abissal entre a forma de atuar no teatro e na TV, não sendo necessariamente, nenhuma melhor ou mais nobre que a outra. Existem boas e ruins atuações em ambos os âmbitos. Apenas isso.

O fato é (Zé me desculpe... eu tentei gostar): Clandestinos não monta na lambreta. Mas valeu a tentativa.

Já “Afinal, o que querem as mulheres?” é gol de placa do Conquinha na final do campeonato. Uma pintura! Rápido, ágil e dinâmico. Roteiro amarrado e interessante. Surrealista. Estética ousada, quente. Parece que estamos numa festa entre o Studio 54 e algum lugar em Barcelona (mesmo nunca tendo ido a nenhum deles). 
Ousado. Ousado e sedutor. 
Atuações excelentes, excitantes. Um programa totalmente fora dos padrões, com uma identidade, um carisma e uma competência técnica que o fazem já figurar entre os melhores da história da TV brasileira. Esse menino Michel Melamed não é fácil não. Não vou falar muito mais, se não vai parecer que fui eu o criador da comunidade “Eu daria pro Michel Melamed”. Se bem que...

Curti. E recomendo.

Sorte pra todos nós. Vai melhorar. Tudo, tudo, tudo vai dar pé.

Bjs



Ouvindo: tiros.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Muita, mas muuuuita calma mesmo nessa hora OU um bom roteiro vale mais que 10.356 palavras

Nesta semana fiz algo que não fazia há anos: fui ao cinema, duas vezes em menos de 7 dias, assistir a dois filmes diferentes.  Coincidentemente assisti a duas comédias. Uma “gringa” e uma nacional: “Um Parto de Viagem” e “Muita Calma Nessa Hora”.

No primeiro (apesar da triste tradução do título do filme pra português, como eventualmente acontece, quase estragar a vontade de assisti-lo) constatei que Todd Phillips (diretor do também genial “Se Beber Não Case”) é o atual rei da comédia, digo, cocada, preta. E no segundo (apesar de inicialmente achar o título também uma bosta, mas depois entender que nada mais apropriado que este titulo para este filme), tive a grande decepção com uma das mais aguardadas estréias do cinema nacional (ao menos pra mim) no ano, além da constatação de que faltam, no Brasil, bons roteiristas de comédia para cinema.
“Um Parto de Viagem” é esporrante! Tão surreal quanto “Se Beber Não Case”, só que mais pastelão. E pastelão dos bons, de frango com catupiry da Paradinha de Rio das Ostras há uns 15 anos. E as comparações podem parar por ai. Por que o único problema de “Um Parto...” é que invariavelmente você vai querer comparar ao sucesso anterior do mesmo diretor. Não faça isso. O que seria de “Um Drink No Inferno” ou “Kill Bill” se ficássemos o tempo todo comparando com Pulp Fiction??? Ferrou, né???

Claro que alguns traços, como o “politicamente incorretíssimo” e o machismo exacerbado (sem que isso seja um problema, por que ele tira sarro de tudo, inclusive disso), são convergentes entre os dois títulos. E pra ser honesto, separando bem as coisas, eu realmente gostei mais e me identifiquei mais com (mais completo também, principalmente pelo roteiro ser mais surpreendente) “Se Beber...”, o que em hipótese alguma é um demérito ou uma diminuição ao excelente resultado final do novo filme de Todd, atualmente em cartaz.

Apesar de todos os possíveis e identificáveis clichês do filme, Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis (ambos impagáveis. Este último também presente no sucesso anterior do diretor) recriam duplas manjadas e clássicas do cinema de comédia onde figuras opostas são obrigadas por algum motivo (neste em especifico, uma viagem de carro para cruzar o país) a se atraírem. Poderia, não fosse a junção de suas brilhantes atuações com um roteiro amarradíssimo, o filme cair no pastelão óbvio (aqueles pastelões de camarão com catupiry do Belmonte, que apesar de deliciosos, não te surpreendem mais de jeito nenhum). Mas ai entra a diferença de toda uma escola de décadas fazendo essa porcaria dar certo (claro, que aqui capitaneada pelo ousado e certeiro diretor).

O novo filme de Todd Phillips é um road movie com situações hilárias que diverte, surpreende e, eventualmente, emociona. Tudo certo!

E assim deveria ser “Muita Calma Nessa Hora”, que também, no começo, nos dá a falsa impressão de que será, como “Um Parto de Viagem”, um (bom) road movie. Mas não é.
Decepção, geralmente está ligada a superestimar algo. Pelo elenco (grande parte dos melhores atores ligados a comédia na atual cena brasileira estão lá) e pelos resultados recentes de Bruno Mazzeo e sua turma a frente dos roteiros de programas de (boa) comédia na TV a cabo (Cilada – Multishow) e aberta (Tudo Junto e Misturado – Globo) e por ser um grande admirador e entusiasta dessa rapaziada toda (eufemismo pra fanzoca de merda), eu realmente esperava um bom filme. Um filme REALMENTE politicamente incorreto e com humor inteligente.

Logo de cara, se você pensa em assistir (acho que mesmo depois desse texto, deve assistir sim) ao filme, não veja o trailer. Nele estão 4 ou 5 das 7 ou 8 boas piadas de “Muita Calma...”, e te trazem ainda mais expectativa que pode se transformar em frustração.

Assim como em “Um Parto de Viagem”, temos também algumas atuações cômicas boas: o pessoal do Hermes e Renato, Adnet (salvando a pátria do meio em diante), Luis Miranda, Débora Lamm e uma ponta sensacional de Serginho “Yeah Yeah” Mallandro.


Tem também a (aaaaaaaai, aaaaaaaaaaaaai, suspiromegamaxsupercasoquandoelaquiser) linda e talentosa Andréa Horta que promete ser a nova queridinha das telinhas e telonas. Boa (e linda) atriz que eu já vinha sacando (e secando, se me permitem o trocadilho) desde a minissérie “A Cura”.

Fora isso, todo mudo meio barro, meio tijolo, fazendo papéis meio óbvios.
A direção de Felipe Joffily, ao contrário de seu trabalho em “Ódique”, é fraca. As piadas bem previsíveis (o recurso da repetição é usado a exaustão e, diga-se de passagem, não dando certo como deveria dar) e o roteiro... bem... eu fiquei me questionando o filme inteiro se esse roteiro era mesmo do Mazzeo.
Porém, contudo, todavia, no meio do caminho caiu a ficha: “Muita Calma Nessa Hora” é um filme de “comédia jovem” (dessa forma mesmo, como está no site oficial da película). Uma comédia pra adolescentes! O elo perdido (e muuuuuuuito perido, diga-se de passagem) do Comédia MTV e da Malhação. Logo, quem estava desavisado e no lugar errado ali, era eu!!!

“Se Beber Não Case” e “Um Parto de Viagem”, são “comédias adultas”. E “Muita Calma Nessa Hora” é uma comédia jovem! Tchaarã! Matamos a charada. Apesar do sexo, das bebidas, da maconha, de tudo isso, a comédia é jovem! Por que realmente, isso tudo faz parte do universo “jovem” atual. Bem diferente daqueles filmes da Xuxa e Paquitas andando de bugre nas praias com pano de fundo as férias de verão, onde no máximo víamos beijinhos e maios um pouco mais cravados, digo, cavados.

Uma pena, pena mesmo que os jovens daqui, de hoje em dia, sejam mais idiotizados que a media mundial. Por que Superbad e Juno, apenas pra citar algumas excelentes “comédias jovens” estrangeiras atuais, são tão acessíveis e “adolescentemente bobas” quanto deveria ser “Muita Calma...”, mas são beeeeeeem mais interessantes e, por que não, inteligentes.
E é justamente no roteiro que essas diferenças abissais ficam mais visíveis. O argumento de Rik Nogueira e Augusto Casé já não é fantástico. Ok. E o roteiro de Bruno Mazzeo, João Avelino e Rosana Ferrão andam de mãos dadas fazendo o filme parecer um texto bobo de amigas do primeiro ano de Comunicação Social da PUC contando como foram suas primeiras férias em Búzios depois de ingressarem na faculdade. A produção e parte técnica também não são boas. Mas ai é uma questão de verba.

O Brasil já avançou (a passos largos) em roteiros de documentários, filmes de ação, policiais (Tropa de Elite 2 e Cidade de Deus tiram onda na praia no verão), dramas... mas em matéria de comédia cinematográfica (vide outras decepções anteriores como os filmes dos Cassetas, por exemplo), salvo as comédias regionais e de época (geralmente baseadas em excelentes clássicos da nossa literatura) ainda deixa muito a desejar. Um recente exemplo é a série “Se eu fosse você”. O primeiro é excelente e o segundo, arrastadíssimo. Apesar do mesmo argumento clichê e dos mesmos excelentes atores em ambos, no primeiro, o roteiro funciona. No segundo, não.

Mas, ainda há esperança! Essa turma é boa. Muito boa mesmo. E está fazendo história na TV brasileira. Espero que as arestas sejam aparadas e que nas próximas (por que, pelo menos em matéria de publico, parece que o filme vai bem) tentativas, tenhamos mais sorte e mais ousadia.

Assim, principalmente como fã, espero.
Ouvindo: o set da Modinha de sábado (20.11) com Cee Lo Green, Miachael Jackson, Lulu e Sandra de Sá, Estelle, Super Grass, Piano Negro, e claro... Paul!!!