quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Muita, mas muuuuita calma mesmo nessa hora OU um bom roteiro vale mais que 10.356 palavras

Nesta semana fiz algo que não fazia há anos: fui ao cinema, duas vezes em menos de 7 dias, assistir a dois filmes diferentes.  Coincidentemente assisti a duas comédias. Uma “gringa” e uma nacional: “Um Parto de Viagem” e “Muita Calma Nessa Hora”.

No primeiro (apesar da triste tradução do título do filme pra português, como eventualmente acontece, quase estragar a vontade de assisti-lo) constatei que Todd Phillips (diretor do também genial “Se Beber Não Case”) é o atual rei da comédia, digo, cocada, preta. E no segundo (apesar de inicialmente achar o título também uma bosta, mas depois entender que nada mais apropriado que este titulo para este filme), tive a grande decepção com uma das mais aguardadas estréias do cinema nacional (ao menos pra mim) no ano, além da constatação de que faltam, no Brasil, bons roteiristas de comédia para cinema.
“Um Parto de Viagem” é esporrante! Tão surreal quanto “Se Beber Não Case”, só que mais pastelão. E pastelão dos bons, de frango com catupiry da Paradinha de Rio das Ostras há uns 15 anos. E as comparações podem parar por ai. Por que o único problema de “Um Parto...” é que invariavelmente você vai querer comparar ao sucesso anterior do mesmo diretor. Não faça isso. O que seria de “Um Drink No Inferno” ou “Kill Bill” se ficássemos o tempo todo comparando com Pulp Fiction??? Ferrou, né???

Claro que alguns traços, como o “politicamente incorretíssimo” e o machismo exacerbado (sem que isso seja um problema, por que ele tira sarro de tudo, inclusive disso), são convergentes entre os dois títulos. E pra ser honesto, separando bem as coisas, eu realmente gostei mais e me identifiquei mais com (mais completo também, principalmente pelo roteiro ser mais surpreendente) “Se Beber...”, o que em hipótese alguma é um demérito ou uma diminuição ao excelente resultado final do novo filme de Todd, atualmente em cartaz.

Apesar de todos os possíveis e identificáveis clichês do filme, Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis (ambos impagáveis. Este último também presente no sucesso anterior do diretor) recriam duplas manjadas e clássicas do cinema de comédia onde figuras opostas são obrigadas por algum motivo (neste em especifico, uma viagem de carro para cruzar o país) a se atraírem. Poderia, não fosse a junção de suas brilhantes atuações com um roteiro amarradíssimo, o filme cair no pastelão óbvio (aqueles pastelões de camarão com catupiry do Belmonte, que apesar de deliciosos, não te surpreendem mais de jeito nenhum). Mas ai entra a diferença de toda uma escola de décadas fazendo essa porcaria dar certo (claro, que aqui capitaneada pelo ousado e certeiro diretor).

O novo filme de Todd Phillips é um road movie com situações hilárias que diverte, surpreende e, eventualmente, emociona. Tudo certo!

E assim deveria ser “Muita Calma Nessa Hora”, que também, no começo, nos dá a falsa impressão de que será, como “Um Parto de Viagem”, um (bom) road movie. Mas não é.
Decepção, geralmente está ligada a superestimar algo. Pelo elenco (grande parte dos melhores atores ligados a comédia na atual cena brasileira estão lá) e pelos resultados recentes de Bruno Mazzeo e sua turma a frente dos roteiros de programas de (boa) comédia na TV a cabo (Cilada – Multishow) e aberta (Tudo Junto e Misturado – Globo) e por ser um grande admirador e entusiasta dessa rapaziada toda (eufemismo pra fanzoca de merda), eu realmente esperava um bom filme. Um filme REALMENTE politicamente incorreto e com humor inteligente.

Logo de cara, se você pensa em assistir (acho que mesmo depois desse texto, deve assistir sim) ao filme, não veja o trailer. Nele estão 4 ou 5 das 7 ou 8 boas piadas de “Muita Calma...”, e te trazem ainda mais expectativa que pode se transformar em frustração.

Assim como em “Um Parto de Viagem”, temos também algumas atuações cômicas boas: o pessoal do Hermes e Renato, Adnet (salvando a pátria do meio em diante), Luis Miranda, Débora Lamm e uma ponta sensacional de Serginho “Yeah Yeah” Mallandro.


Tem também a (aaaaaaaai, aaaaaaaaaaaaai, suspiromegamaxsupercasoquandoelaquiser) linda e talentosa Andréa Horta que promete ser a nova queridinha das telinhas e telonas. Boa (e linda) atriz que eu já vinha sacando (e secando, se me permitem o trocadilho) desde a minissérie “A Cura”.

Fora isso, todo mudo meio barro, meio tijolo, fazendo papéis meio óbvios.
A direção de Felipe Joffily, ao contrário de seu trabalho em “Ódique”, é fraca. As piadas bem previsíveis (o recurso da repetição é usado a exaustão e, diga-se de passagem, não dando certo como deveria dar) e o roteiro... bem... eu fiquei me questionando o filme inteiro se esse roteiro era mesmo do Mazzeo.
Porém, contudo, todavia, no meio do caminho caiu a ficha: “Muita Calma Nessa Hora” é um filme de “comédia jovem” (dessa forma mesmo, como está no site oficial da película). Uma comédia pra adolescentes! O elo perdido (e muuuuuuuito perido, diga-se de passagem) do Comédia MTV e da Malhação. Logo, quem estava desavisado e no lugar errado ali, era eu!!!

“Se Beber Não Case” e “Um Parto de Viagem”, são “comédias adultas”. E “Muita Calma Nessa Hora” é uma comédia jovem! Tchaarã! Matamos a charada. Apesar do sexo, das bebidas, da maconha, de tudo isso, a comédia é jovem! Por que realmente, isso tudo faz parte do universo “jovem” atual. Bem diferente daqueles filmes da Xuxa e Paquitas andando de bugre nas praias com pano de fundo as férias de verão, onde no máximo víamos beijinhos e maios um pouco mais cravados, digo, cavados.

Uma pena, pena mesmo que os jovens daqui, de hoje em dia, sejam mais idiotizados que a media mundial. Por que Superbad e Juno, apenas pra citar algumas excelentes “comédias jovens” estrangeiras atuais, são tão acessíveis e “adolescentemente bobas” quanto deveria ser “Muita Calma...”, mas são beeeeeeem mais interessantes e, por que não, inteligentes.
E é justamente no roteiro que essas diferenças abissais ficam mais visíveis. O argumento de Rik Nogueira e Augusto Casé já não é fantástico. Ok. E o roteiro de Bruno Mazzeo, João Avelino e Rosana Ferrão andam de mãos dadas fazendo o filme parecer um texto bobo de amigas do primeiro ano de Comunicação Social da PUC contando como foram suas primeiras férias em Búzios depois de ingressarem na faculdade. A produção e parte técnica também não são boas. Mas ai é uma questão de verba.

O Brasil já avançou (a passos largos) em roteiros de documentários, filmes de ação, policiais (Tropa de Elite 2 e Cidade de Deus tiram onda na praia no verão), dramas... mas em matéria de comédia cinematográfica (vide outras decepções anteriores como os filmes dos Cassetas, por exemplo), salvo as comédias regionais e de época (geralmente baseadas em excelentes clássicos da nossa literatura) ainda deixa muito a desejar. Um recente exemplo é a série “Se eu fosse você”. O primeiro é excelente e o segundo, arrastadíssimo. Apesar do mesmo argumento clichê e dos mesmos excelentes atores em ambos, no primeiro, o roteiro funciona. No segundo, não.

Mas, ainda há esperança! Essa turma é boa. Muito boa mesmo. E está fazendo história na TV brasileira. Espero que as arestas sejam aparadas e que nas próximas (por que, pelo menos em matéria de publico, parece que o filme vai bem) tentativas, tenhamos mais sorte e mais ousadia.

Assim, principalmente como fã, espero.
Ouvindo: o set da Modinha de sábado (20.11) com Cee Lo Green, Miachael Jackson, Lulu e Sandra de Sá, Estelle, Super Grass, Piano Negro, e claro... Paul!!!

3 comentários:

  1. Vc escreve muuuuuuito bem, João! Bjs, May!

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  2. João! Foi vc que escreveu... tá o máximo. Sério, adorei o texto (principalmente a superhipermegaultrauberadjetivação da Andréia Horta, que convenhamos... aff! apenas convenhamos, né? hahaha!). Assistirei amanhã! Aguarde o feedback e parabéns pela resenha.
    Beijos ;)
    Alice.

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