quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quem tem vuvuzela vai à Joanesburgo

Na ultima terça-feira, dia 15 de junho, descia eu pela Rua General Glicério em Laranjeiras (já em clima de despedida, pois até o fim do mês deixo o apê que tão bem me abrigou e acolheu nos últimos oito meses) e dei de cara com um grupo de estudantes uniformizados, provavelmente tendo sido liberados mais cedo de suas aulas para poderem acompanhar ao jogo de estréia da seleção brasileira na Copa da África de 2010.

A alegria estava estampada no rosto daquela rapaziada, talvez pela liberação das aulas (por um motivo, aparentemente não tão grave quanto uma doença ou um falecimento na família), talvez pela própria festa que a Copa do Mundo e que o futebol proporcionam ao povo brasileiro. Não sei. Só sei que eles estavam nitidamente felizes. E uma das meninas do grupo, com bandeira na mão e o rosto pintado de verde e amarelo, olhou para o porteiro do prédio, que fazia uma certa cara de deboche do “ufanismo” do grupo e bradou: é o Brasil, pô!!! E continuaram todos gritando e cantando rua acima.

Eu estava indo rumo à casa do Cuia (antes passaria na casa de minha mãe para almoçar, como num típico dia de domingo, em plena terça) para assistir com alguns amigos de infância, a estréia do time de Dunga na primeira Copa de Felipe (filho do Cuia) e de Maria Fernanda (filhota do Dadinho). Naquele instante comecei a me recordar das minhas Copas. Fiz esforço pra lembrar de algumas. Outras vieram com uma facilidade incrível. Mas, o fato é que sei exatamente onde estava em todas as Copas desde 1978. Nesta, por exemplo, estava na barriga e Dona Vani. Quase de saída.

De 1982, tenho apenas flashes. Lembro da agitação no prédio onde morávamos (e onde minha mãe e minha avó moram até hoje, na Rua Pedro Américo, Catete). Dos fogos e da animação. Era a época do futebol arte. Hoje, quando vejo matérias sobre aquela Copa, tenho certeza absoluta de que a arte esta acima e qualquer negocio, qualquer business e principalmente de qualquer tipo de competição. Arte é arte. E ponto.

Da Copa de 86, no México já começo a ter lembrança mais efetivas. A mais triste foi assistir ao BrasilxFrança na casa do nosso vizinho na época. Lembro perfeitamente do Julio Cesar mandar na trave a bola do pênalti que daria a classificação a França.
Ocorria ali, sem nem mesmo saber por que, minha primeira desilusão futebolística.

A década de 90 foi a década da minha adolescência. E ela começou com o gol do Caniggia, depois de uma lindo passe de Don Diego. Argentina chegaria à final. Acabava a Copa para o Brasil e também a vida útil da minha nave espacial do Guerra nas Estrelas estraçalhada no chão. Sentia ali, pela primeira vez, a ira futebolística.

Depois de quatro Copas seguidas tomando na cabeça, em 1994 foi o ano da minha primeira alegria de verdade como torcedor do Brasil (nota do editor: eu nunca fui fanático por seleção Brasileira. Eu não acompanho muitos jogos, não tenho muito saco e principalmente: nunca encontro nenhum nigeriano, ou norte coreano, sequer um alemão, depois os jogos pra sacanear. Logo, perde um pouco o sentido pra mim, torcer, sem ter a quem sacanear no final do jogo. Mesmo assim, sempre do segundo ou terceiro jogo da Copa em diante, baixa um espírito patriótico e eu sempre acabo virando um torcedor típico).
A comemoração do Bebeto no “gol do Matheus”, o Romário destruindo, voando, até o Mauro Silva, um cabeça de área como não existe mais nos dias de hoje... lembro de tudo! A gente era feliz e não sabia. Mas, tirando a bola isolada do Baggio, que me fez agarrar o meu velho pai e sair com ele gritando “é tetra, é tetra!” pelo corredor, um momento que me emociona sempre que lembro, ate hoje, é do gol de falta do Branco contra a Holanda. Aquele foi o Gol do Tetra. Ali, se aquela bola não entra, não sei. Não sei mesmo o que poderia acontecer. Branco do Fluminense. Branco que saiu do banco e que pouco antes da Copa era tido como “gordo, velho, bichado”. Foi bonito. Lembro que chorei. Nessa época, a comemoração era na Rua Paissandu. A Copa já tinha um que de Micareta.

A de 98 foi uma Copa pra ser esquecida. Foi tudo errado ali. De divertido, lembro de vermos os jogos na casa da Migó, saudosa avó do Liô e do Marcelo. Era o início do Som da Rua. E, se não me engano, depois dos jogos a gente ensaiava. Foi a Nike? Foi um suposto caso entre Susana Werner e Bial? Foi o salto alto? Ou foi mérito da França? De toda forma, pelo menos pelo jogo da final, foi merecido. Ali eu entendi o que era resignação futebolística.

Na Copa de 2002 me vem a mente as nights que fazíamos antes dos jogos ou depois deles. Por serem na China e no Japão, os jogos tinham uma diferença de meio dia. Foi uma espécie de previa o que se tornaria o Carnaval do Rio alguns anos depois, com os blocos desfilando de manhã e vc tendo que atochar cerveja pra dentro antes de tomar café! Lembro do Rivaldo jogando pra caraio. Lembro de ter torcido, e muito, pelo Ronaldo. Lembro, se não me engano, de nessa época estar flertando com a Paulinha... que depois virou minha namorada (ou já estava pegando ela???)... não. Acho que estava no fim do namoro com a Sabrina. Que, coitada, se não me engano, trabalhou (ela é jornalista) no dia da final da Copa. Lembro de assistir a final na nossa antiga casa da Pedro Américo, apartamento 1001, com minha mãe. Só eu e ela. Vibramos bastante, mesmo sendo tão cedo da manhã. Ali entendi que o futebol é capaz de coisas que desafiam qualquer lógica.

E veio 2006. Eu não lembro quase nada da Copa de 2006. Também não lembro quase nada do ano de 2006. Parece que existe um hiato entre 2005 e 2007.
Se não me engano, assistíamos às partidas na casa da Karin, no Leme. Juntos. Era a forma de sentir que o Liô estava ali, de alguma forma, com a gente. Agora, pensando bem, lembro de jogarmos “Máfia” no final dos jogos. E do Brasil perdendo, mais ou menos como em 98, pra mesma França (sempre a França...pqp) de Zidane. Ali, naquele momento, sofri um pouco com uma certa nostalgia futebolística.

E 2010 começou com uma vitoria xôxa sobre a Coréia do Norte. Não vejo muito brilho nessa seleção do Dunga. Tenho a impressão de que é a seleção dos “guerreiros da Brahma”, ou seja, um bando de pinguços brigões. Antes fossem. Na verdade, acho que falta veneno a essa seleção. Falta alguém desafiador. Controverso. Genial. É todo mundo (como falam meus camaradas de Uberlândia) bãozin demaisssss. Todo mundo religioso demais. Casadinho demais. Comandável demais. A Alemanha começou passando o rodo. Argentina e Uruguai engataram a quinta marcha já no segundo jogo. Enfim... não vai ser uma Copa fácil. Talvez, mais por demérito nosso do que mérito dos outros. Mas, Brasil é Brasil. E vice-versa. Afinal, o futebol é uma caixinha de surpresas. Acho que nessa Copa começo a entrar na fase da maturidade futebolística.

Ouvindo: vuvuzelas... Putaqueoparal!!!!!!!!!!!!

2 comentários: