segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ajoelhou? Delícia. Mas tem que rezar!

- Calma, Ceará... calma! Vai dar tudo certo. Vai ficar tudo bem. – eu pensava enquanto lavava o rosto na pia do banheiro.
- É apenas a “Pandora carioca”. A realidade paralela. Nada de mais. Daqui a pouco você vai acordar e esses avatares de roupa de grife vão sumir da sua frente. E você não vai nem lembrar desse pesadelo... por que afinal, você nunca lembra dos seus sonhos mesmo! – eu continuava doutrinando minha mente para não entrar em colapso, entre uma lavada e outra no rosto.
- E quer saber? – continuei – Pára de ser viadinho, porra??? Tem mulher pra caralho nessa porra!!! Você??? Logo você que na tenra idade da adolescência enfrentava Kananga do Hilos, Roda Viva (às quartas e domingos) e Asa Branca???!!! Logo você que frequentava o Raio de Sol em Vila Isabel, Olimpo e (confesso, foram poucas vezes, mas cheguei a ir sim) Rio Sampa, faltando apenas conhecer a Via Show para fechar a “Santíssima Tríade do Vai, arrasa néim”????

Neste momento olhei fundo dentro de meus olhos vermelhos e assustados na imagem do espelho e me perguntei:

- Ok... preciso saber, pelo menos como cheguei até aqui nesta selva. Tá... há alguma horas eu chegava ao Vivo Rio pra assistir ao show da Vanessa da Mata, produção lá do escritório. Ok. Ok. A Bel ligou e disse que estava indo pra festa que teria na Varanda do Vivo Rio. Eu fiquei frenético com a quantidade de gostosas que avistei na porta e topei a empreitada. Azucrinei a todos para conseguir uma entrada Vip. Ah!!! Essa pulseira amarela fluorescente no meu pulso direito deve querer dizer alguma coisa... deixa eu ler... VIP VARANDA VIVO RIO!!! Ok! Eu consegui. Não paguei pra entrar. Menos mal. Menos mal. Lembro da Juju comentando que o ingresso custava R$120,00 pra mulheres e R$200,00 pra homens. Mas não vejo nenhuma menção à apresentação da Madonna (a real), nem do U2... tampouco uma reunião mediúnica dos Beatles ou uma ressurreição de Michael Jackson que justifique cobrar esse valor pelo ingresso. É mais caro do que paguei pra ver Radiohead e Coldplay. Tem alguma coisa errada. Essa moçada animada ai fora realmente pagou 200 pratas??? Vai lá, que seja R$100,00 pra respirar aqui dentro, uma vez que 95% da galera que está ai tem pinta de carteira de estudante (verdadeira ou falsa, não importa)? Se eu fosse um cara de 22 anos e tivesse R$200,00 (bico seco, por que a bebida mais barata custava R$8,00 e era cerveja!) no bolso, ao invés de ficar olhando pra essas gostosas siliconadas e de pernas de fora bem torneadas, frutos de horas na academia e de um mega salto usado por todas elas, a noite toda e provavelmente voltar pra casa no zero, juntava mais 50, 80 pratas e ia até a Termas Solarium, uma da melhores do Rio, pra ter sexo pago com moças tão gostosas e bem vestidas (???) como essas daí e que iam me foder a paciência infinitamente menos. Por que vamos lá... pensem bem... continha fácil estilo propaganda Mastercard:

- Ingresso pra festa: R$200,00 sem carteira de estudante;
- 5 cervejas Stella Artois (que é o mínimo que vc pode beber durante duas horas de festa pra aguentar essa porra toda): R$40,00;
- 1 Red Bull pra agüentar a noite toda sem ficar exausto (visto que vc não vai morrer numa grana preta pra ficar bocejando e pensando na sua cama, vazia): R$20,00;
- 3 Combos Red Bull + Vodka (que você vai ter que pagar pra loira gostosa que sabe-se lá por que, olhou pra vc enquanto rebolava ao som da versão pagode de “entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas”, e você, sabe-se lá por que entrou numa de chegar nela, mesmo sabendo que seria caro. Muito caro.): R$66,00;
- Estacionamento do Vivo Rio (pq mesmo sabendo que pode rodar na Lei Seca, se com seu Honda Civic já ta complicado comer gente, de taxi então, meu amigo, vai ser impossível): R$20,00;
- Panda Motel, caso você seja bem sucedido na sua negociação com a loira gostosa que só dança, ri e bebe Red Bull com vodka as suas custas, por que ela ainda não foi programada pra conversar: R$120,00 suite simples.
- Champs dentro do Panda (por que vc não acha que ela vai chegar lá e tomar uma latinha de Boemia, concorda?): R$200,00 a garrafa.
- Um engov antes e um depois: R$4,00
- Ressaca moral de ter gasto R$670,00 pratas numa noite pra ter apenas um orgasmo (por que obviamente, bêbado e as 5:48h da manhã, depois dela te fazer gozar em 3 min, cairiam ambos no sono) quando você poderia ter gasto metade disso em qualquer uma das melhores termas do Rio, e ainda não teria que aturar a loira mala (apesar de gostosa) a noite toda e ainda de manhã (quando a maquiagem já havia ido pro caralho e as espinhas, fruto de bomba, digo, hormônios, ficam bastante visíveis, e você repara que ela sem a maquiagem, a chapinha, o salto altíssimo e o modelito “te enganei, não sou tão gostosa assim”, não é... tão gostosa assim): não tem preço! Que dizer... tem sim: R$150,00 cada sessão de analise por, pelo menos, um ano.
- Essa conta não fecha, cara! – pensava comigo mesmo - Essa festa não fecha!!! É tudo muito estranho. Muito surreal. É como se Dali pintasse seus quadros ouvindo Mr. Catra. Tá tudo fora da ordem. Há muito tempo (justamente por freqüentar sempre os mesmos, e mais do que nunca, bons lugares) eu não vejo tanta mulher gata. Mas elas parecem ter saído todas da mesma fabrica. Todas da mesma forma. Todas elas, de alguma forma, estão tentando ser gostosas/sensuais. Basicamente já notei três tipos:

1) A Cachorrona com coleira de Grife: elas são as mais malhadas, as mais siliconadas, as com os cabelos mais escorridos, as mais maquiadas, as que estão com as menores roupas, os decotes mais cavados, as costas mais desnudas, e pasmem, nenhuma delas, olhando bem de perto, aparenta ter mais de 21 anos. Elas estão acompanhadas de sujeitos com cara de bicheiros/jogadores de futebol/celebridades serie b/promoters de boates da Barra e obviamente não pagaram nada pra estar ali, tampouco pra beber as vodkas com Red Bull em copões enormes. Elas andam pra lá e pra cá, no intuito, obviamente, de chamar a atenção. Elas não se pegam com ninguém, e elas, volta e meia, talvez por conta do “contrato” estabelecido com os seus “amigos” que as acompanham, param e rebolam 3 a 5 minutos seus traseiros malhados, seja ao som de um funkzinho ou de um eletronicozinho. Depois do quinto copo, elas estão mais permissivas e é possível se observarmos com atenção, ate ver uma palhinha de calcinha (micro), qdo elas inventam de rebolar de verdade.

2) A Patricinha saia cintura alta/pernoquinhas de fora: Elas estão todas vestidas da mesma forma! Blusinha tomara que caia, saia de cintura alta e pernoca de fora (pernocas bem menos malhadas que as das cachorronas, mas que ainda fazem um bonito) e uns saltos bem altos meio brilhosos com uns bicos finos (confesso que não entendo nada de moda, mas a imagem que lembro agora, de olhos fechados, de tudo que acontece lá fora, é de saltos brilhosos com bicos finos). Elas são bem menos agressivas/chamativas que as cachorronas, mas também querem ver e ser vistas (na real, acho que se fosse feita uma pesquisa Datafolha na entrada da festa, com 78% sairia em primeiro lugar a opção “vim para ver e ser vista”, seguida de “vim pra dançar com minhas amigas” (12%), “vim por que tenho muito dinheiro sobrando” (5%), “vim por que sempre quis ir numa festa que misturasse Information Society e Regis Danese” (4%) e “vim por que quero encontrar um namorado” (1%, ou seja, duas meninas magrinhas, de calca jeans, cabelos naturais, sandália baixinha e com uma garrafinha de água mineral na mão, encostadas no cantinho do salão) e são as primeiras a voarem nos adereços de festa de aniversario distribuídos em determinado momento da noite, principalmente da tiaras de princesa do Bailinho (por que assim como filhote do Monobloco que se preze tem que ter um medley de marchinhas de carnaval no seu set, uma festa estilo Bailinho tem que ter lembrancinhas de casamento sendo distribuídas no meio da noite) pra levar de recordação da night incriiiiiiivel que elas estão tendo.

3) A vitima da moda metida a descolada: ela saiu diretamente da figuração de um clipe do Cansei de ser Sexy (ou do Hori, pq hoje todos eles, mudernos, emos, ou fanfas, estão usando e abusando do look “achei as roupas no fundo do armário do meu irmão mais velho” ) e acha que nunca houve um momento tão criativo na moda mundial quanto os anos 80. Cabelos assimetricamente cortados por elas mesmas, brincos e pulseiras geométricas, calça colada tipo legging brilhosa (o toque sexy), blusa de malha largona com detalhes fluorescentes com um dos ombros e sutiã a mostra e all star, ou Nike cano alto todo colorido. Elas são calouras da faculdade de moda que ainda não conseguiram se libertar totalmente da vida pregressa que tinham antes da entrada da faculdade, mas não conseguem ir mais, por exemplo, na Nuth da Barra.

Sento na privada (tampa abaixada, claro). Passo a mão na cabeça. No pescoço...
- Qual a possibilidade ínfima que tenho de estabelecer qualquer contato com esse tipo de gente??? Qual? Vou falar do que? O que elas ouvem? Só conheço a Gaga, e olhe lá! O que elas vêem? Eu não tenho acompanhado os últimos capítulos de Viver a Vida, a novela de cotas do Brasil, não tenho TV a cabo e não vejo seriados da FOX, nem SONY, nem realities da E!. Fodeo! Vou ficar no zero! – sentenciei pra mim mesmo.
- Luan Santana!!! – bradei! – O Justin Bieber brasileiro foi o momento de catarse coletiva do show da banda. Sim por que a festa tem uma banda que toca covers tão sortidos quanto a musica mecânica que os DJs????????) apresentam. A banda tinha um nome estranho, um baixista que parecia personal treiner, o único negro que tocava guitarra sem nenhum swing que já vi na vida e um cantor que era o elo perdido entre o Flausino e o Chorão. A banda era ruim “de com força”! E claro, como não pode deixar de ser na atualidade, seja no Rio de Janeiro, em Mato Grosso, ou em Porto Alegre, tem que ter um set de sertanejo universitário no meio do show.
- Eu conheço bem o Luan Santana!!! - Sorri pra minha imagem já quase desfocada no espelho embaçado – eu acompanhei o surgimento do fenômeno “meteórico” (entenderam o trocadilho, heim, heim? Se não entenderam estão por fora) na época em que morava em Uberlândia!!! Já tenho um link com a moçada!!! Vou falar sobre o Luan Santana.
- Mas a uma altura dessas (3:35h da manhã) – continuei a argumentar com minha própria figura – os sarados ou os mais endinheirados já começaram a atuar. E o que sobrou já esta provavelmente muito bêbada e transtornada como uma gatinha gordelícia (aquela que com o vestidinho certo, o saltinho certo e a quantidade de bebida certa na sua cuca, parece mais gostosa que gorda) que vi se jogando em cima de um rapaz que usava camisa regata e tinha braços bem torneados, apesar de ter cara de pedreiro, antes de entrar nesse banheiro. Lembro também de ter acompanhado umas tentativas de uns garotões em chegar chegando em uma meninotas. Mas é constrangedor. Se fosse uma historia em quadrinhos, os balõezinhos estariam todos em branco. E claro, sempre sobra pros homens a tarefa de cortejar e conquistar a fêmea, e claro, ficar sobre o crivo e aprovação da mesma. Mas se formos analisar de verdade, desse mato não sai coelho de nenhuma das partes!!! A falta de dialogo interessante é totalmente bilateral. E quando digo dialogo interessante não falo de política, de economia, de filosofia ou de gastronomia. Falo de coisas simples como trocar respostas e perguntas que não sejam: e ai? Beleza? Beleza! Maneiro? É! Vem sempre aqui? As vezes. Maneiro. É. Enfim... por mais de 3 minutos.
É... pelo menos não esta tocando musica eletrônica...

Nota do editor: a seleção musical é um caso a parte. Começa pelo fato que os DJs/produtores (???) não sabem seque mixar as musicas. Vá la... se a seleção ao menos fosse feita com alguma coerência, isso seria o de menos. Mas não é. As pessoas confundem inusitado com fora de propósito. Surpresa com susto. Diferente com mal gosto. E se gosto é que nem cu e cada um tem o seu, confesso que esse ai fora é o festival das hemorróidas (credo... desculpem pela grosseria) pq nunca vi uma seleção tão sem pé nem cabeça, passeando (de cadeira de rodas) pelo dance farofa dos anos 90 (pras cocotas pensarem... ah, lembro do meu irmão do meio ouvindo isso naquela época do CD), o dance farofa dos anos 2000, um ou outro pagode, um ou axé, um ou outro sertanejo e claro, o eletronicozinho do acordeom que faz com que as pessoas mexam seus ombrinhos seja numa festa de playba que custa R$200,00 ou numa feira agropecuária no interior de MG, onde R$200,00 é a renda familiar de muitas pessoas que vão encher a cara de catuaba e cerveja Cristal (detalhe que em MG eu já ouvia essa praga da musiquinha do acordeonzinho, assim como “ela sai de saia e bicicletinha” há mais de um ano!!! Estamos atrasados até na tosqueira!)!!!

Ouço o DJ(???) gritar no microfone que de agora até as 7 da manhã vai rolar um after no andar de baixo só com... MÚSICA ELETRÔNICA!!! É hora de morfar. Hora de sair do banheiro e ir correndo entrar num taxi e refletir sobre tudo que vi e ouvi naquela noite, digamos, no mínimo inusitada. Não pra achar uma explicação do por que a humanidade esta caminhando ao avesso. Isso eu deixo para os teóricos. Mas sim pra arrumar uma forma de ganhar também uma grana em cima disso tudo. Até pra fazer ruim tem que fazer direito!!! E arte é arte. Dinheiro é dinheiro.
Sai correndo. Se o intuito, como bem diz o nome da festa (uma sigla pessimamente mal engembrada) era sacudir minha alma, conseguiram! Ela esta mais sacudida que nunca. Tão sacudida que acho, sinceramente, que minha alma esta sofrendo de mal de Parkinson. Amém!

= ) Diretamente do FB de Bianca Caravelos, o hit que faltou na M.I.S.S.A pra minha madrugada de sexta pra sábado ter sido perfeita:

http://www.youtube.com/watch?v=wMh84SXv-Ic&feature=related

Ouvindo: Jamiroquai (live in Verona) pra desopilar o fígu.

5 comentários:

  1. joão, muito obrigada por colocar em palavras bem mais específicas que as minhas EXATAMENTE o que eu senti na última vez que resolvi ir a uma "noitadinha" no rio. juro que dei graças a deus por ter achado meu namorado no mundo, pq eu jamais teria chance (ou vontade) perto dessa galera! sigo sorrindo por aqui! =) beijos

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  2. em tempo: segue o link da musica do acordeom que eu nao sabia nem por onde começar a procurar. obrigado rê, minha consultora pra musicas eletronicas fanfas (se bem que dessa eu ate gosto)...
    http://www.youtube.com/watch?v=p-Z3YrHJ1sU

    e sorriso, bom saber que vc nao precisa mergulhar nessa barbarie!!!! rs

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  3. Joãozinhoooo já te falei que sou sua fã? Cara, você resumiu muito bem a minha sensação nas únicas 4 festas que fui aqui no Rio desde o meu retorno de Barcelona no dia 20 de janeiro. Dá medo! Essa modinha uniformizada me assusta. Onde anda a personalidade dessa galera? Porque dentro do armário não é né. Não dá nem pra fazer o trocadilho... É por isso que prefiro ficar na ostrinha do meu lar produzindo, criando... é mais proveitoso!
    bjokas e ótimo texto!

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  4. Resumindamente:
    A verdade nua e crua.
    bjkas

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  5. Proporcionou boas risadas!!!
    Adorei o humor no drama das noites cariocas. Valeu, Joao =]

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