terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meu pai

- Pai, acabei de fundar um novo partido!
- Qual, meu filho?
- PPP!!!
- PPP???
- Partido do Pum da Perna do Pai...
Gargalhadas cúmplices.
Se não me engano, eu tinha uns 7 anos e esperava sentado no colo do coroa a minha mãe votar nas primeiras eleições diretas para prefeito após a ditadura em algum lugar no bairro da Gloria, centro-sul do Rio de Janeiro.
Era 1985. Saíamos definitivamente do período da ditadura militar. Mas lá em casa isso nunca existiu. Meus pais sempre foram super abertos. Liberais. Cabeça aberta. Coração aberto.
Meu pai, apesar da idade avançada (quando eu nasci, em dezembro de 78, ele tinha 60 anos) era um garoto! Alegre! Jovial! Meu pai sempre foi “da galera”. Total.
Meu pai não perdia a piada. Perdia o amigo. A paquera. O emprego. Nunca a piada. Essa irreverência foi uma das maiores heranças que ele me deixou, fora a frota de caminhões de carregar titica (como ele mesmo dizia), claro!

Hoje, dia 27 de outubro, onze anos após sua partida, lembro com orgulho de momentos divertidos pelos quais passamos juntos.

Meu pai transformava qualquer evento trágico, em cômico. Meu pai era como um desses personagens clássicos e ingênuos de comedias antigas. Um Chaplin.. um Mazaropi.. um que de Grande Otelo, até.

Lembro de duas passagens rápidas da época em que tinha uns 10 ou 11 anos, para celebrar os onze anos de passagem do “réio do Rio”.

Certa vez, fui com meu pai tomar um lanche no Bob’s da Praia de Botafogo. Pedimos nossos hambúrgueres, coca-colas e de sobremesa papai resolveu me apresentar a tal da Vaca Preta.

- Que isso pai?
- Você vai ver. Uma delicia!

Papai pediu uma nova Coca e um copinho de sorvete de baunilha. Naquele momento, fiquei imaginando que diabos de alquimia poderia acontecer ali.
O coroa comeu um pouco do sorvete de baunilha e começou a derramar o refrigerante no copinho (quando digo copinho, imagine literalmente um copo pequeno). Jeitoso como só ele, estabanado como poucos, obviamente não teve controle sobre a quantidade do liquido e derramou quase 300ml de uma só vez num copinho onda cabiam 200ml de sorvete, já praticamente preenchido. Não deu outra: provocou uma verdadeira explosão!!! A mistura efervesceu e voltou inteira no colo do meu pai que ficou banhado de Vaca Preta da camisa aos pés. Risos de todos (incluindo eu, as atendentes e meu próprio pai) presentes naquela tarde no Bob’s.

Algum tempo depois, fomos ao estádio das Laranjeiras assistir a Fluminense x Cabofriense (sim, a culpa do meu tormento futebolístico é do meu pai).
Em determinado momento meu pai vira pra mim e pra meu primo Valdir e diz:
- Meninos, deu merda! Literalmente!
E sai correndo arquibancada abaixo em direção aos banheiros.
Eu não sabia muito bem o que significava “literalmente”. Mas “merda” eu já conhecia bem. Fui atrás do meu pai. Depois de tentar entrar em 3 banheiros, meu pai consegue enfim, um desocupado. Obviamente era tarde de mais. Papai sai do banheiro, minutos depois, com a bermuda e a cueca (sujas) na mão. A cueca foi pro lixo. Mas a bermuda, meu pai tentou lavar num tanque que se encontrava no cantinho do banheiro. O que ele não percebeu, é que atrás do tanque não havia parede, e dava direto pra arquibancada.
Enquanto meu pai, com a bunda de fora, lavava a bermuda, a torcida gritava e sacaneava, chamando de bunda murcha, bunda branca, bunda velha, entre outros adjetivos não tão simpáticos. Nesse momento, eu e Valdir já tínhamos sujado nossas bermudas: mijamos de tanto rir. Meu pai sorria, como se não tivesse nem ai pra hora do Brasil. Menos mal... o Fluminense goleou de 5x0.

Assim foi meu pai. Assim me lembro e sempre me lembrarei dele. Assim espero que meus filhos um dia conheçam suas historias antológicas.
A saudade sempre ira existir, por mais clichê que isso possa parecer. Mas, da nuvem onde ele estiver alojado (provavelmente beliscando o bumbum das anjinhas, como ele mesmo dizia que faria se um dia, por engano, o enviassem pro céu) sei que ele também está dando boas risadas, enquanto nos lembramos disso tudo.
Assim foi Rodrigo Miranda.

Um comentário:

  1. q delicia de historias. essas são apenas algumas que eu sei...
    impossivel não amar alguem assim...

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