sexta-feira, 19 de março de 2010

Joselitas Rulz!!!!

Ela veio correndo escada abaixo na estação Largo do Machado do metrô. Falando ao celular. Falando é eufemismo! Gritando ao celular! O sujeito na outra ponta do metrô estava por dentro do diálogo em alto e bom (ou ruim) “carioquês”:

- Não!!! Tipo... nãaaaaaaaaao!!! Não, Marianinhaaaaaaaa!!! Não, cara! Tipo assim... Ah! Marianinha... não vai “peidar”, né???

Ops... péra lá! UMA MOÇA URRANDO “PEIDAR” EM LOCAL PÚBLICO, ÀS 10H DA MANHÃ??? Já começava a despertar o “tolerância zero” que estava adormecido em mim.

Ela não era bonita. Mas também não era feia. Altura mediana. Corpo normal (apenas uma barrigotinha saliente, mas nada demais). Cabelos meio loiros, meio castanhos, meio pretos, meio sei lá. Molhados. Pele branca e alguma acne nas bochechas escondidas por aquela base que a meninada passa pra isso mesmo: esconder espinhas. Se estivesse calada, ou falando numa altura tolerável ao telefone, talvez passasse despercebida. Ou até chamasse positivamente a atenção. Por que a apesar de não ser boniiiiiiiiita, estava arrumadinha estilo gastei-uma-nota-pra-parecer-despojada-e-ou-descolada. Pinta de estagiária de moda do escritório de alguma Farm da vida. Toda em tons verdes. Camisetinha sem manga (notem que não, nem de longe, sei os termos técnicos das roupas) verde, saia mais larguinha embaixo e mais apertada em cima (pelo menos não era de cintura alta), num tecido meio brilhoso, verde mais escura, tênis All Star tipo de couro verde petróleo, e um colar da moda, grande, com umas rosas que pareciam feitas de papier marche, brancas com detalhes... VERDES! A menina era praticamente um agrião ambulante. Mas tava ruim não. Ah! E óculos! Aqueles óculos grandes, redondos, enormes, que cobrem metade do rosto das meninas, mas que faz elas acharem que estão em Ibiza quando usam.
Pra sorte dela, e nossa, por que cada segundo ouvindo aqueles chiados era uma eternidade, o metrô chegou no momento exato em que eu ela colocou os pés na plataforma. A moça ignorou completamente a existência de uma aglomeraçãozinha (que deveria funcionar como uma espécie de fila) e tal qual Moisés no Mar Vermelho, abriu passagem de forma abrupta e foi furando a aglomeraçãozinha que, surpresa, ia abrindo. Claro, sem tirar a porra do telefone no ouvido. Como num transe, ela também ignorou que primeiro a gente deixa as pessoas que estão dentro do metrô sair pra depois entrarmos e foi também atropelando quem estava desembarcando na estação.
Sob olhares meio incrédulos, o Pepino Gigante Falante, que parecia não estar nem ai pra hora do Brasil, foi para o outro lado do vagão, parou na porta e continuou:

- Porra Marianinha!!! Eles te sacanearam, tá ligada? Tipo... nãooooooo!!! Não Marianinha!!! Tipo... Não, brotheeeeeeer!

Ops! Não era uma menina que estava do outro lado da linha? Marianinha, que diga-se de passagem, é um apelido totalmente apelativo, por que exceto no Rio de Janeiro, nomes como Mariana, longos, não vão para o diminutivo jamais!, não é uma menina??? Então por que chamá-la de “brother”???
Ela continuou, ainda gritando, mesmo com todo mundo olhando e soltando barulhinhos do tipo “humpf” ou “tsc, tsc, tsc”:

- Marianinha, eles te foderam, cara! Tipo... é!!! Te sacanearam, cara! O Luiz Felipe é traíra. Tá ligada, né??? É... tipo... tipo isso merrrrrmo. Mó leva e trás mermão! Ó – continuou agora com a mão na frente da boca, como se fosse contar um segredo, só que num volume um pouco alto pra quem queria que ninguém soubesse de nada – esconde a parada e não fala nada pra ninguém. Ninguém vai saber. Já fiz isso “troceeeeeeeentas” vezes!!! Hahahahahahahaha!!!!!!!

Nesse momento eu queria voar no pescoço do Alface Ambulante jogá-la no chão e socar seus córneos pra ver se saia sangue verde das narinas. Afinal, segundo o poeta Bruno goleiro do Flamengo, quem homem nunca espancou uma Chicória que anda e fala no meio do metrô?

- Tá! Então faz isso. Não fala nada pra ninguém que ninguém vai saber de nada. Marianinha, tipo, te adoooooro. Vai na minha. Tá. Beijooooooooooo amigaaaaaaaaaa.

Ufa! Putaqueoparau!!!! Estávamos livres. Ao menos da voz insuportável, por que alem do sotaque carregado e forçado, o timbre da sua voz também era in-su-por-tá-vel.
Quando tudo parecia resolvido, finado, sabe-se lá por que diabos, já que eu estava fazendo cara de nenhum amigo, ela atravessou o vagão e parou em pé do meu lado. Olhou pra mim e deu um leve sorriso. Nessa hora, as espinhas dela já me irritavam, os pelos pretos do braço branquelo dela me irritavam, o cabelo molhado meio oleoso me irritava pra caralho e aquela verdidão sem fim me deixava com náuseas. Pra minha suprema sorte (deixei oferendas no altar de Murphy antes de sair de casa), um senhorinha entrou na estação Botafogo. Parou em frente às cadeiras laranjas (reservadas para idosos e gestantes) e ficou olhando pra ver se alguém gentilmente lhe cedia o lugar. Nesse momento noto a inquietação de uma moça. Uns quarenta anos de idade. Carinha de quem veio da linha 2. Cabelo na altura do queixo. Calça jeans comprada na Marisa (de mulher pra mulher) e uma dessas camisetinhas pretas falssí da D&G com lantejoulas. Usava aparelho. Era a Maria Clara Gueiros do pântano. Parecia que a qualquer momento ela franziria as sobrancelhas e bradaria: vem cá, te conheço????
Meio a contra-gosto, Maria Clara cover levantou e deu lugar a velhinha, já que as outras 4 poltronas estavam tomadas por... velhinhos! Que obviamente não cogitaram levantar.
Nesse momento se deu o grande encontro. A fome com a vontade de comer, ou a tagarela com a vontade de falar. Como se fossem BFF de infância, as duas se olharam e já rolou um sorrisinho amarelo entre elas e uma leve balançadinha de cabeça.

- Absurdo! Né??? – Falou a sósia tosca da humorista.
- É, né!!! – respondeu meio desnorteada, sem entender bem do que a outra falava, mas prosseguindo a conversa, o Pimentão Fashion.
- Ninguém é capaz de levantar pra dar lugar a uma senhora!

Ops!!!!!!!!!! Tirando ela, a pessoa mais nova sentada ali poderia ser pai do Axl Rose!

- Pois é, menina! Como pode isso. Uma senhora, né???
- Eu acho incrível a falta de educação desse povo! – eu realmente achava que ela lançaria um “vem cá, te conheço???” a qualquer momento.
- Tipo, eu morei fora, né??? Morei em Miami 6 meses! – Gabou-se a filhota do Hulk.

Ops!!! Tá explicadíssimo de onde vem tanta educação.

- Lá – prosseguiu – não existe isso não. Tipo assim... gringo é muuuuuuuito educado, saca??? Lá, ninguém joga papel na rua, ninguém avança sinal.... – provavelmente ninguém atropela outras pessoas ao entrar no metro também, né - Povo educado merrrmo, saca???

- Saco menina!!! Claro que saco. Essas coisas só acontecem no Brasil. Aqui o povo é ruim mesmo. Ô cruza!!!!!

Nesse momento, eu já rezava pra todos os santos pedindo força pra agüentar mais uma estação, já que estávamos no Cantagalo, indo pra General Osório.

- Prezados clientes, permaneceremos parados por alguns instantes até que o trafego a nossa frente seja liberado – ouvimos nos auto-falantes da composição.

Nunca, em toda minha vida, aquela frase soou tão amedrontadora. Nunca fiquei tão desesperado em esperar alguns segundos, ou minutos, no ar condicionado do metro. Eu mexia os dedos dos pés, apertava o mastro do metro, trincava os dentes. Eu estava prestes a cometer um Joseliticidio! Será que eu conseguiria “legitima defesa”???

- Tá vendo? Nada funciona nessa terra não! Por que você voltou?
- Ah menina... tipo... eu não queria não, sabe? Tava descolando vários trampos maneiros lá, né? Trabalhando num loja irada – provavelmente de faxineira – mas queria alguma coisa mais na minha área – leia-se, não teve peito pra ficar como imigrante ilegal – ai voltei pra tentar facul. Mas sinto saudade. Principalmente da educação do povo.

Pronto!!! Ela podia falar do namorado, das amigas, do Epcot Center, do Mickey, da Tonga da mironga do cabuletê in english. Mas ela, a reencarnação da Lady Di, resolveu voltar ao maldito tema da educação do povo.

- Lá o povo é bem educado... e honesto!!! Ninguém te rouba, ninguém te passa a perna. Se você esquecer de pedir troco, eles te lembram!!!

Oooooooooooooops!!!!!! Quem é que há alguns minutos tava mandando a Marianinha dechavar a parada que ninguém ia saber???? Não tenho idéia do que era a parada. Mas coisa boa, certamente não era.

E assim continuaram por mais uns três ou quatro intermináveis minutos.
O metrô parou na General e eu, imitando minha amiga ecológica, sai correndo e atropelando tudo e todos afim de me afastar ao máximo daquele diálogo surreal que eu presenciara nos últimos 15 minutos. Corri sem olhar pra trás, ofegante. Freeeeeeeeeedom! Berrava por dentro, tal qual um William Wallace.
Antes de sair da estação, ainda dei um olhadinha rápida de canto de olho e avistei as duas animadíssimas, conversando, gestticulando e com as pessoas ao redor fazendo cara de desespero.
O que a joselitice une, o homem não separa! Amém.

= ) E por falar em Joselita, hoje é dia da mais joselita e mais amada mãe do planeta. A minha! Parabéns, honey dear. Te amo por todos e todos os séculos.

Ouvindo: Little Joy

7 comentários:

  1. Hahahaha
    Ufaaa...
    Parece filme...


    "Destino,pra que te quero"??

    haha... brincadeira!

    Credo!
    Vc ainda deu sorte.Imagine se ela tivesse cc e levantasse os braços perto de ti...



    "Nem",quer uma dica?Nunca esqueça seu iPod
    em casa!
    Ou mp5,mp6,mp7....rsrs...sei lá!



    beijos em ti!

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  2. Comecei a ler por indicação de uma amiga e o blog é muito bacana! Dei muitas risadas com o texto e confesso que não queria estar na tua pele! Concordo com a menina acima... dá-lhe música de qualidade no transporte público no sense!

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  3. Pô Joãozinho Rodriguinho, tipoooooo, deixa as Joselitas conversando em paz, brother! tsc tsc tsc
    hahahaha
    ;]

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  4. eu dani! seja bem vinda. e me passa a conta da sua amiga pra eu depositar a grana. combinei que quem indicasse a um amigo (ou inimigo) eu dava 50 cruzeiros novos.
    ;)

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  5. Adoooreii!!! Se contar as pérolas do metrô linha vermelha de SP os cariocas choram! hahaha

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  6. me diverti horrores na leitura. valeu, johnny!

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  7. eu sempre esqueco de passar nos comentarios antigos...
    enfim, valeu juuuu!
    bjs

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